Título: Saudado nos corredores, Gabeira corre risco de cassação
Autor: Cristiano Romero e Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2005, Política, p. A6

Em cada passo que dava ontem pelo Congresso, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) era parado por colegas, servidores e admiradores. Era abraçado e cumprimentado por ter tido a "coragem" de desafiar, em plenário, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti. "Valeu bicho", disse um servidor da Câmara, ainda preso aos anos 70. Gabeira disse que a presença de Severino na presidência da Câmara é um desastre para o Brasil. "Ou Vossa Excelência começa a ficar calado ou vamos iniciar um movimento para derrubá-lo", bradou na terça-feira. "Todos (os deputados) acham isso que eu disse (sobre Severino), mas não fazem nada", afirmou Gabeira ontem, um dia após o bate-boca em plenário. Há poucas chances de a indignação da Câmara com gestos e palavras de Severino Cavalcanti - que assume sem constrangimento o corporativismo - se reverter em gestos concretos. Já contra Gabeira, o confronto pode render um processo de cassação. O deputado Benedito Dias (PP-AP) protocolou na Mesa Diretora pedido para abertura de processo contra Gabeira. O pedido será analisado pela Corregedoria. Se for acatado, segue para o Conselho de Ética. O senador Jefferson Péres (PDT-AM) disse que discutiria com o presidente da legenda, Carlos Luppi, a possibilidade de o partido representar contra Severino Cavalcanti diretamente no Conselho de Ética por quebra de decoro parlamentar. A prerrogativa de acionar o Conselho é dada a partidos políticos e à Mesa Diretora. O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), disse que Severino está incapacitado para exercer a função. O PFL, no entanto, não pretende ir às vias de fato e representar contra Severino. "Foi um aviso aos navegantes", explicou o líder do partido no Senado, José Agripino Maia (RN). As advertências ao presidente da Câmara serviram para ele se conscientizar que não deve exorbitar das funções e se apressar em defender colegas. "O regimento das duas Casas não prevê a figura jurídica da destituição de presidentes do Senado e da Câmara. O que se poderia fazer é uma representação contra Severino no Conselho de Ética, mas também nisso o regimento é omisso. Deveria haver pelo menos a exigência para que ele se afastasse da presidência durante o processo. Não há", disse Péres. Para o senador, o comportamento de Severino exige uma reação. O presidente da Câmara disse que defende punições brandas para parlamentares envolvidos em esquemas de caixa 2. Disse, ainda, que o "mensalão" não existiu. Além da reação solo do PDT, pode prosperar algum tipo de censura a Severino imposta pelo Movimento Brasil Verdade, idealizado por Gabeira e outros parlamentares em defesa da ética e bem comum. Aproximadamente 40 parlamentares já integram o movimento. "Pretendemos oferecer alternativas à crise política", explica Gabeira. "O movimento pode se consolidar na defesa de posturas republicadas, no compromisso com o público, no combate à promiscuidade entre público e privado, na inversão do patrimonialismo", define Jefferson Péres.