Título: Lamy assume a OMC; Doha é seu desafio
Autor: Assis Moreira De Genebra
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2005, Internacional, p. A10
Comércio Francês tem a difícil missão de destravar a negociação
Pascal Lamy, ex-comissário de Comércio da União Européia (UE), assume hoje a direção-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC) decidido a concentrar todos os esforços nas próximas semanas para desbloquear a Rodada Doha, a grande negociação global de liberalização comercial. Reforma da entidade que ele chamava de "medieval", agilização do secretariado e outras questões ficarão para depois. Sua prioridade será tentar que os países acelerem a aproximação de posições para "acordos possíveis" no final do ano na conferência ministerial em Hong Kong (China). No entanto, até agora o francês Lamy tem sido muito cuidadoso em não avançar nenhum tipo de idéia de como pretende conduzir ou influenciar a negociação. Em todo caso, consciente das enormes dificuldades para superar os impasses, ele certamente começará a destacar que a conferência de dezembro em Hong Kong não é o fim da Rodada -- ou seja, novo fiasco não engaveta a rodada. Lamy tem ampla experiência, vai ter peso próprio importante e se dedicará com muito afinco. Mas as perspectivas de desbloqueio da rodada são muito vagas. "Não tivemos nenhuma indicação este ano de movimento por parte tanto da União Européia, como dos EUA e do G-10 [grupo de protecionistas que inclui Japão, Suíça e Noruega] na agricultura", diz o embaixador brasileiro Luiz Felipe de Seixas Corrêa. Ou seja, por mais do que o futuro diretor-geral possa fazer, o que o Brasil e outros exportadores agrícolas esperam é que os dois elefantes do comércio mundial mostrem realmente suas cartas na mesa, em agricultura. Se não houver movimento de Washington e Bruxelas, não há como evitar novo fiasco. Para evitar esse cenário, Lamy vai organizar em outubro uma miniconferência com alguns ministros, em Genebra. Será a última ocasião para fazer um balanço do estado da negociação e ver o que é possível fazer para aprovar modalidades em Hong Kong. A ambição por abertura de mercado está diminuindo em quase todo o planeta. A recente crise envolvendo os produtos têxteis chineses na Europa pode ampliar as dificuldades para se chegar mais rapidamente a uma fórmula para cortar tarifas industriais. Como os países em desen-volvimento podem aceitar uma fórmula que implique amplos cortes e abra seus mercados, enquanto os EUA e a UE resistem a uma liberalização acertada há mais de dez anos, como é o caso dos têxteis? ONGs advertem que o único caminho para Lamy salvar a Rodada de Doha é extraindo concessões dos países ricos.