Título: Varig ganha prazo em Nova York, mas ainda carece de caixa
Autor: Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2005, Empresas &, p. B2

Aviação Justiça dos EUA determina que pagamento de leasing em atraso seja feito até 20 de setembro

A Varig conseguiu ontem um acordo na Corte de Falências do Distrito Sul de Nova York para empurrar para 20 de setembro o risco de perda dos onze aviões alugados da International Lease Finance Corporation (ILFC). Pelo acordo, a empresa terá que pagar US$ 6 milhões à companhia de leasing até aquela data ou perderá as aeronaves. O valor corresponde a aluguéis em atraso desde que a Varig ingressou em recuperação judicial, em junho. Com o fôlego de vinte dias, a aérea precisa correr para encontrar uma solução para a sua falta de caixa. O total de leasing em atraso, com a ILFC e outras companhias, já beira os US$ 30 milhões e há quase R$ 30 milhões de salários atrasados. Esses débitos foram contraídos já dentro da recuperação. A proposta de venda da subsidiária de carga VarigLog para o fundo americano MatlinPatterson, que injetaria US$ 48 milhões quase que imediatamente na companhia, continua embargada por credores da Varig. Entre eles, sindicatos de funcionários, o fundo de pensão Aerus e a General Electric. Diante do impasse que se instalou, o Tribunal de Justiça do Rio, onde corre o processo de recuperação, decidiu assumir uma postura pró-ativa no caso. Formou uma comissão com quatro juízes para acompanhar o caso. Uma das primeiras medidas foi entrar em contato com a corte novaiorquina para troca de informações. Nesta semana, o tribunal já havia promovido encontro com credores os BNDES, Banco do Brasil e Aerus. "A intenção (...) é de que sejam feitos todos os esforços possíveis, dentro da legalidade, para salvarmos essa empresa que é um patrimônio nacional, geradora de empregos e de tributos", afirmou o juiz Luiz Roberto Ayoub, um dos integrantes da comissão, em nota. O esforço do TJ justifica-se não só pelo tamanho da Varig e publicidade do caso, mas também pelo fato de ser esse o primeiro grande caso da nova Lei de Falências. O andamento e o desfecho desse processo poderá dizer muito sobre a eficácia da nova legislação, que por tanto tempo foi apontada como promessa de solução para as companhias em dificuldade. O TJ do Rio, ao que tudo indica, quer provar ser capaz de aplicar a nova lei com sucesso. Segundo Daltro Borges, advogado da Varig, como alternativa à venda da VarigLog, o TJ está sugerindo a segregação dos ativos da empresa e também de recebíveis de venda de passagens da Varig num fundo ou empresa de propósito específico. Isso serviria para dar garantias a novos empréstimos à Varig. "Já que muitos contestam a venda da VarigLog e o valor da operação, essa seria uma oportunidade de outros investidores com dinheiro aparecerem", disse Borges. De acordo com ele, se a idéia do fundo não prosperar, outra opção já em discussão com o TJ é a abertura de um leilão, com data e hora marcada, para que outros eventuais interessados na VarigLog apresentem suas propostas. "Claro que há o risco de o MatlinPatterson se desinteressar do negócio", disse o advogado. A Varig tem até 12 de setembro para apresentar o seu plano de recuperação, que terá que ser aprovado ou rejeitado pelos credores.