Título: Ática planeja expansão para 2006 e quer "incomodar os concorrentes"
Autor: Tainã Bispo
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2005, Empresas &, p. B4

Livros O mercado de publicações universitárias, que representa 3% do faturamento, vai crescer

A Editora Ática, que acaba de completar 40 anos, traça planos para crescer em 2006 e "incomodar os concorrentes", afirma João Arinos, diretor-geral da Abril Educação e presidente da Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares (Abrelivros). A editora quer aumentar a participação no mercado editorial de livros escolares, que movimentou R$ 1,1 bilhão em 2004 e 155 milhões de exemplares, de acordo com o Ministério da Educação e com a Abrelivros. Atualmente, a divisão Abril Educação, cuja receita é composta por 60% da Ática e 40% da Scipione, possui 36% do mercado privado e 30% do mercado governamental. Para aumentar sua fatia nesse segmento, a Ática está investindo em novos projetos, que incluem lançamento de títulos e maior atenção ao marketing, com o foco nas escolas e professores. Arinos afirma que a partir de 2006, a editora pensará em diversificação. Em um primeiro momento, será pesquisado a área de livros universitários, que representa apenas 3% do faturamento da Ática. O diretor não exclui a possibilidade de entrar também no segmento de obras gerais. Explica que o setor de educação no Brasil é pouco explorado e que a editora dará mais atenção a esse mercado. "A área de educação é enorme e o livro é uma pequena parte do setor", diz. Arinos diz que o mercado privado de livros escolares está estabilizado e a concorrência tem aumentado. Além das editoras tradicionais, como a FTD, há mais de 100 anos no mercado, e a Saraiva, há 91, surgem novos competidores. A concorrência também está mais acirrada porque as escolas têm estimulado a reutilização dos livros e o uso de apostilas é importante - estima-se que 30% das escolas privadas adotem apostilas. Perante esse cenário, "qualquer crescimento será bem-vindo", diz Arinos. A expectativa fica por conta do setor público, que lançou o Programa Nacional do Livro Ensino Médio (PNLEM) em 2004. O governo comprou 2,7 milhões de exemplares para os alunos do primeiro ano do ensino médio, nas disciplinas de matemática e português das regiões Norte e Nordeste, gastando R$ 38,4 milhões (no programa inteiro, desde a compra do livro à distribuição). No final de 2005 começam as negociações da compra dos livros para 2006 - para os três anos do ensino médio de todo o país, nas mesmas disciplinas. São cerca de 8,4 milhões de estudantes matriculados. Arinos estima aumento de 40% nas vendas dessa área para os próximos anos. No Programa Nacional de Livros Didáticos (PNLD), que engloba o ensino fundamental (1º a 8º séries), o governo comprou 110,6 milhões de exemplares e gastou R$ 574,8 milhões em 2004. Após elogiar o PNLD como um dos programas mais eficientes do mundo, Arinos diz que o governo é um "negociador difícil" e que tem "achatado" o preço dos livros escolares. O governo acaba comprando livros didáticos por 25% do preço vendido pelas editoras às livrarias. O setor público é o maior cliente da Abril Educação. Ela vendeu 56 milhões de exemplares em 2004, sendo que 46 milhões foram vendidos para o mercado governamental e o restante para o mercado privado. O governo responde por 50% da receita das editoras. A Ática teve um faturamento bruto de R$ 186,4 milhões e um prejuízo operacional de R$ 25,4 milhões no ano passado. Em 2003, a empresa obteve lucro de R$ 3,4 milhões e um faturamento bruto de R$ 206 milhões. Arinos explica que os resultados "não refletem a realidade operacional da empresa, que é muito boa". O prejuízo registrado em 2004 deve-se há um custo financeiro - a empresa está pagando a dívida contraída pelo grupo Abril para comprar a participação acionária que pertencia ao grupo francês Vivendi na Ática. Além desse custo, a Abril Educação "deslocou" parte da receita obtida com as vendas ao governo de 2004 para 2005 - devido à lei sancionada no dia 21 de dezembro do ano passado, que desonera os impostos de PIS e Cofins do setor produtivo do mercado editorial. Parte dessa receita foi transferida para o balanço de 2005, com o objetivo de aproveitar ao máximo a desoneração, explicou Arinos.