Título: O plástico bonito democratizou-se
Autor: Angela Klinke
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2005, Empresas &, p. B7

Família Como uma viúva e três filhas promoveram os utensílios da Coza, que já tem até um fã clube

O plástico bonito saiu do armário, democratizou-se e faz o faturamento da Coza - líder nacional do segmento de utilidades plásticas com design - crescer 20% neste ano, chegando a R$ 24 milhões. "Não é prerrogativa dos ricos gostar de coisas belas. Todos querem esse prazer. Nosso lema é: 'bonito para todos'", diz Daniela Zatti, administradora da Coza. Assim como a italiana Alessi redesenhou objetos cotidianos, a Coza criou o "plástico pop" - com qualidade, estética e preços a partir de R$ 2. A preocupação com o desenho tem rendido uma coleção de prêmios - são 22 nacionais e internacionais - desde o Houseware & Gifts de Design até o IF Design, da Alemanha, passando por dois prêmios do Museu da Casa Brasileira. A previsão de faturamento da Coza, que reforça seus resultados exportando para Argentina, Uruguai, Chile, Colombia, Bolívia e Venezuela, para 2005 é de R$ 24 milhões, uma expansão de 20% em relação a 2004. Tudo começou na década de 80 com um saca-rolhas que o empresário gaúcho Rudy Luiz Zatti trouxe da Europa. Dono de um empresa de plásticos, que na época fabricava sandálias e tênis, ele decidiu mudar de setor e descomplicar a abertura dos vinhos. Foi a solução encontrada para fugir da concorrência da Melissa fabricada pela família Grendene, original de Farroupilha, há poucos quilômetros de Caxias do Sul, onde Zatti tinha a fábrica. O saca-rolhas de polipropileno foi um sucesso até a morte do empresário em 1987. Enquanto a família sugeria à viúva Vera Zatti vender sua participação na empresa e abrir uma butique, ela se desfazia da prataria, das jóias e da biblioteca deixada pelo marido para comprar a parte dos sócios. Vera fez das três filhas - Cristina, hoje designer da empresa, Daniela, a administradora, e Manuela, a diretora de marketing, suas novas parceiras - e começou a ampliar o mix de produtos. A aposta foi em peças feitas em poliestireno, com a transparência de um acrílico. Mas, no início da dos anos 90 os fornos de microondas e as máquinas de lavar se tornaram muito populares. E, em testes, as peças da Coza ficavam turvas quando aquecidas. Em 2000, então, a empresa retomou sua matéria-prima original e hoje tem uma longa linha de 118 peças feitas em polipropileno e disponível em 10 cores. Todas com "cara de plástico" e aprovadas pelos consumidores. Um de seus mais recentes sucessos de vendas é uma lixeira oval que ocupa pouco espaço na pia. "Todas as outras do mercado eram redondas", conta Daniela, enaltecendo o trabalho feito em família. Valor: Qual o diferencial do produto Coza? Daniela Zatti: Até chegarmos ao mercado, havia objetos de plástico só para a linha de limpeza - para serem colocados na área de serviço. A linha de mesa era feita com cores baratas sem apelo estético. Apostamos em produtos com formas, cores e texturas diferenciadas. Você toca num produto Coza e percebe uma textura aveludada. Além disso, o plástico no Brasil tinha uma espessura muito fina, pratos eram dobráveis. Fizemos paredes de plástico mais grossas que resultaram em peças mais robustas. Conseguimos mudar a percepção a respeito do material. Criamos um mercado que não existia. Valor: Qual a resistência que vocês encontraram no início? Daniela: Enfrentamos uma resistência tremenda do varejo. Demorou alguns anos até as pessoas perceberem que o plástico poderia fazer parte do dia-a-dia e não só ser usado na casa da praia e no piquenique. Valor: Qual foi a estratégia adotada? Daniela: Decidimos começar nossa distribuição em lugares nos quais o plástico seria bem tratado, nas lojas de presentes. Lá as peças da Coza ficavam entre jarras de aço inox, sugerindo que o plástico era uma outra opção possível. Depois de visitar as feiras européias, os varejistas voltavam ao Brasil cheio de idéias e procurando soluções nacionais para as tendências vistas lá fora - e batiam na porta da Coza. Valor: Quem vende seus produtos hoje? Daniela: Em 2000 começamos a vender também para os supermercados e notamos que o valor do nossos produtos se dispersava. O problema era inverso da loja de presentes: quando a coleção de produtos não ficava toda junta, o valor de cada peça se depreciava. Era preciso expor toda a extensão da família Coza. Depois de cinco anos, conseguimos que as seções fossem divididas pela natureza dos materiais, e lá colocamos toda a linha Coza para que as pessoas reconhecessem que os produtos fazem parte de um universo. Valor: Como o mix de produtos evoluiu? Daniela: Criamos vários tipos de organizadores e entramos na área de decoração. São mesas auxiliares, revisteiros, relógios de parede. Cada vez mais associamos nossos produtos às tendências da moda e conseguimos criar um clube com 2 mil consumidores. Outros clientes entusiasmados criaram uma comunidade Coza no Orkut. Valor: O que você espera dos seus produtos? Daniela: Quero fazer plásticos bonitos - e que sejam o mais barato possível.