Título: Prada, em dificuldade, perde mercado e reduz a produção
Autor: Natália Gomez e Ivo Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2005, Empresas &, p. B10

Embalagens Fabricante de latas de aço tem dívida de R$ 130 mi com CSN

Quase três anos após ter sido vendida pela família Prada, a Metalúrgica Prada, maior fabricante de latas de aço do país, enfrenta crise financeira e operacional, com perda de participação de mercado. A própria direção da companhia admite uma queda de sua fatia nas vendas de 22%, em 2002, para um nível atual de 15%. Na área financeira, sua dívida com a Companhia Siderúrgica Nacional CSN, única fornecedora da folhas metálicas (matéria-prima) no Brasil, está em torno de R$ 130 milhões. Como garantia ao passivo, segundo consta em no último balanço anual da empresa, a Prada penhorou suas máquinas e equipamentos em favor da siderúrgica. "A CSN é dona de quase tudo", afirma Rafael Golombek, presidente do conselho da Prada. Golombek acumula ainda o cargo de diretor de relações institucionais da Vicunha Têxtil. O desempenho da Prada mostra um faturamento bruto de R$ 450,5 milhões no ano passado, praticamente igual ao do ano anterior. Já na última linha do balanço, o resultado piorou: a empresa passou de prejuízo de R$ 13 milhões em 2003 para R$ 26 milhões do ano passado. De acordo com informações do setor, a produção da Prada caiu de 36 milhões de latas ao mês para 20 milhões de unidades. Rainha absoluta do mercado de embalagens para óleos comestíveis, a Prada enfrentou a concorrência do plástico (PET) e perdeu expressiva fatia no setor. Como ela, outras fabricantes sofreram com a mudança no perfil de embalagens desencadeada pelas suas clientes. A sua nova aposta é no setor de aerossóis, menos suscetível aos ataques da concorrência. "É um mercado mais estabelecido que o do aço, pelo menos no médio prazo", diz Golombek. Segundo ele, a empresa detém 70% desse segmento. Atualmente, 60% do portfólio da companhia está voltado para o setor químico (latas para tintas e vernizes, além dos aerossóis), e o restante para o alimentício, informou o executivo. Diante desse cenário de dificuldade, informa Golombek, a empresa tem planos de investir na modernização do seu parque de litografia, considerado o maior do Brasil, mas ainda não definiu o volume de investimentos. Em 2002, a família controladora da Prada vendeu o controle para o empresário Jaime Schreier, ex-presidente e acionista da Armco, empresa laminadora de aço. Para efetuar a compra, Schreier constituiu uma empresa chamada Kiskidee, sediada em Delaware, nos Estados Unidos, para onde enviou os recursos da venda de suas ações na Armco e para captar recursos, de acordo com o então advogado do empresário, Marcelo Freitas Pereira. Logo em seguida, trouxe os recursos para o Brasil, que foram aportados na holding Onomatopéia. Por meio dessa holding fez a aquisição do controle da Prada, sendo em seguida incorporada pela fabricante. Desde que Schreier decidiu se desfazer da produtora de latas em 2004, não se sabe ao certo quem são os novos controladores da companhia por trás da Kiskidee. Sabe-se apenas que Schreier vendeu 100% do controle da Kiskidee para outros acionistas. Fontes do setor afirmam que o novo controlador é uma holding criada e baseada na Suíça. O próprio presidente do conselho da Prada afirmou não ter conhecimento de quem são os acionistas. O diretor Ademir José Scarpin foi procurado pelo Valor mas não quis conceder entrevista. Uma fonte da CSN negou informações do mercado de que a empresa é acionista da Kiskidee. Mas informou que a empresa vende R$ 30 milhões ao mês para a Prada e confirmou o crédito que tem superior a R$ 100 milhões com a fabricante. A assessoria de imprensa da CSN afirmou que a siderúrgica tomou os bens da Prada como garantia da dívida há quase dois anos e que este é um procedimento comum com empresas devedoras. O terreno onde está instalada a metalúrgica, no bairro de Santo Amaro, em São Paulo, ainda pertence à família Prada. O aluguel vence em setembro de 2006 e sua renovação já está sendo negociada, informou Golombek.