Título: Novo diretor sugere relação de parceria
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2005, Finanças, p. C8

Banco Mundial Indicado para assumir posto do Bird no Brasil diz que crise política não afeta linhas ao país

O novo diretor do Banco Mundial (Bird) para o Brasil, John Briscoe, diz que o país enfrenta "como outras grandes democracias" a crise política originada por episódios de corrupção. "Não digo que não seja importante, mas todas as grandes democracias passam por isso", afirmou o diretor ao Valor. "Do ponto de vista do Bird, não é um problema que atrapalhe o ambiente de negócios no país. Já perguntei a pessoas aqui dentro do banco responsáveis por obras no Brasil. Todos dizem que o processo de licitação e as práticas de contratação de serviços melhoraram muito, houve uma grande transformação nos últimos 20 anos", disse. O diretor defende mais investimentos estratégicos do Bird em infra-estrutura, para alavancar o crescimento econômico, em vez de limitar o foco a iniciativas pontuais para redução da pobreza. "O desenvolvimento é muito mais do que fazer com que não existam mais pessoas vivendo com menos de um dólar por dia", pondera, dizendo ser reducionista falar só em pobreza quando se discute desenvolvimento. Para ele, o Bird deve ser mais "parceiro" de países em desenvolvimento e menos oráculo de receitas econômicas. O novo presidente do Bird, Paul Wolfowitz, está aberto às sugestões dos países de renda média para mudar o banco, e deve visitar o Brasil entre novembro e dezembro, anunciou Briscoe. Briscoe diz que "a corrupção é uma questão importante no Brasil, mas não o suficiente para estrangular a economia". Ele lembra resultados de pesquisas com empresários, nas quais a corrupção não aparece em primeiro lugar como impedimento para fazer negócios. O diretor cita como exemplo escândalos de corrupção como o da Volkswagen na Alemanha. "É um problema, mas isso não paralisa a economia." Numa discussão na diretoria do Bird sobre uma alegação de corrupção de US$ 10 mil numa obra de US$ 600 milhões em Uganda, Briscoe defendeu o país africano, afirmando que a empresa que pagou os US$ 10 mil não foi escolhida para prestar o serviço. "O caso deve ir à Justiça, o executivo deve ser processado, mas parar a obra é um exagero", lembrando que isso ocorreu na Alemanha quando se descobriu corrupção na construção do estádio de futebol de Munique para a Copa de 2006. "É preciso ver as coisas num contexto. Não devemos mudar a opinião sobre o Brasil por causa de um episódio, se houve tantos avanços nos últimos 20 anos", completou. Desde que assumiu o cargo, Wolfowitz tem feito duros discursos em países em desenvolvimento contra a corrupção. Na semana passada, por exemplo, disse que o Bird só dará mais empréstimos para usinas hidrelétricas em Bangladesh se o país controlar a corrupção. Apesar de ter declarado a África como uma grande prioridade do Bird, Wolfowitz vê a atuação nos grandes países de renda média como "fundamental" para o banco, segundo Briscoe. Alguns acadêmicos conservadores, como Allan Meltzer, defendem que o Bird deixe de atuar com países de renda média como Brasil, México ou Tailândia e concentre-se em países pobres. Briscoe discorda, e diz que Wolfowitz também. "Da relação com os países maiores depende a sobrevivência do Bird", diz Briscoe. "O fato de Wolfowitz não ter feito ainda visitas ao Brasil ou à China não tem nada a ver com menor prioridade para esses países. Apesar da caricatura que fazem dele na imprensa, todos que o conhecem percebem que o presidente ouve muito. O presidente Lula encontrou com ele em Gleneagles (durante o encontro do G-8), o ministro Antonio Palocci também o conhece. Ele está agora ouvindo muito as sugestões para processar isso e organizar a instituição." Uma das questões fundamentais para o Brasil será a necessidade de aumentar investimentos em infra-estrutura com uma margem de manobra fiscal mínima. Enquanto a China investe 5% do PIB anualmente em obras, o Brasil não consegue ultrapassar 1%. "Será que o Brasil deve investir 5%? Isso não é possível, porque o país tem um endividamento grande e juros que já são altos. A margem de manobra é mais limitada, o que quer dizer que o país deve avaliar muito bem as despesas públicas e avaliar como atrair investimento privado." Briscoe diz que "não tem as respostas prontas "sobre o que deve ser feito para atrair investimento privado, por exemplo, na área de energia elétrica, na qual os esforços do governo têm sido frustrados e grandes companhias estão desistindo de investimentos. "Tenho sentido essa preocupação com várias pessoas no governo, no Ministério da Fazenda, mas ainda não tenho uma sugestão específica em termos de legislação e detalhes." O diretor do Bird lembra também que alguns dos grandes investidores na área de energia em países em desenvolvimento quebraram (como a Enron) ou foram atingidos por forte queda de suas ações nas bolsas de valores (caso da AES). Além disso, várias dessas empresas ainda estão saindo da ressaca do excesso de investimentos dos anos 90. Mas Briscoe diz que o Brasil hoje está "maduro" e procurando saber as medidas concretas que podem ser tomadas para atrair o investimento externo. "Não é mais uma questão de grandes linhas, as grandes linhas já foram adotadas pelo país, agora são os detalhes dos contratos e sistema regulatório, e nisso podemos ajudar com a nossa experiência em outros países que estão atraindo grandes investimentos" diz. "O banco tem experiência na China para recomendar soluções que representem um equilíbrio razoável entre meio ambiente e desenvolvimento ou riscos dos setores público e privado", completa.