Título: Isolado pelo PSB, Ciro sai do páreo
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 23/04/2010, Política, p. 2

Eleições

Sem apoio dos diretórios do partido em 19 unidades federativas e preterido na disputa por alianças, o deputado se vê obrigado a jogar a toalha na corrida pelo Palácio do Planalto

Oficialmente, o PSB ainda não declarou que Ciro Gomes está fora da disputa presidencial, mas, nos bastidores, o discurso é um só: o partido não deseja uma aventura sem dinheiro nem alianças em que falta até mesmo o apoio dos próprios socialistas. Apenas oito dos 27 diretórios estaduais do PSB estão hoje com a candidatura de Ciro para o que der e vier (veja quadro) e não impõem condições, como alianças, por exemplo. Nos outros 19, os socialistas ou só desejam a candidatura se houver a parceria de outros partidos ou já organizaram projetos eleitorais ao lado dos petistas e preferem ver o PSB na campanha de Dilma Rousseff, para não serem obrigados a separar os palanques. O próprio irmão de Ciro, o governador do Ceará, Cid Gomes, chegou a cometer um ato falho ontem ao sair da reunião com Lula e comentar o futuro de Ciro: ¿Ele estava¿, está no projeto presidencial¿¿ Esse quadro dos estados (1)foi apresentado ontem a Ciro numa conversa de duas horas com o presidente do PSB, Eduardo Campos, e o vice, Roberto Amaral. Para despistar os jornalistas, o cenário para o encontro foi o escritório da Alcântara Ciclone Space, no Edifício Corporate, do Setor Comercial Norte. Ali, eles avaliaram prós e contras de uma candidatura. Amaral, por exemplo, lembrou que em 2002 o partido era menor e tinha menos estrutura do que tem hoje. Ainda assim, o PSB teve candidato à Presidência da República (Anthony Garotinho, hoje no PR) e obteve 15% dos votos, pouco atrás de José Serra (PSDB). Da mesma forma que falaram da valentia do PSB em 2002, lembraram que, há oito anos, o PSB não tinha tantos candidatos a governador. Hoje são 11: Eduardo Campos (PE), Cid Gomes (CE), Iberê Ferreira (RN), Wilson Martins (PI), Camilo Capiberibe (AP), Serafim Corrêa (AM), Paulo Skaf (SP), Renato Casagrande (ES) e Beto Albuquerque (RS). Também não tinha tantos projetos de eleger senadores e deputados federais e estaduais. ¿Não há nenhum caso de disputa direta com o PT. O PSB em alguns estados não tem como ter chapa de deputado sozinho, precisa de alianças¿, comentou Eduardo Campos. Em quatro estados, o PT apoia o PSB e essa aliança está fechada: Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, em que o acordo foi selado ontem: ¿Wilson Martins é o meu candidato¿, anunciou o ex-governador Wellington Dias (PT), ao chegar com Martins para a reunião com Lula que tinha como objetivo oficial tratar da ferrovia Transnordestina. ¿A nossa tendência é apoiar Dilma¿, contou Martins, depois do encontro com Lula. Ele, Campos e Cid Gomes aproveitaram a reunião com Lula para, ao fim, conversar sobre a aliança. De pé, num bate-papo de 15 minutos no gabinete presidencial na presença de Cid Gomes e Wilson Martins, Campos contou informalmente a Lula que a reunião com Ciro tinha sido positiva.

Lentidão Ciro tem apoio incondicional daqueles que colecionam problemas com o PT nos estados ou contam com ele para tentar se fortalecer. No Pará, por exemplo, o presidente regional do PSB, Ademir Andrade, faz críticas aos petistas: ¿O que a gente entende é que o programa do PT não é o melhor. O PT é bom, mas não é o melhor. Muita coisa precisa ser mudada, o programa do Lula teve coisa boa, mas foi lento no investimento e a política ambiental deveria ser levada de maneira distinta¿, diz. Andrade, no entanto, está quase sozinho na avaliação. ¿A gente entende aqui que o PSB pode caminhar sem candidatura própria. Estamos satisfeitos com o presidente Lula. Nos estados há toda uma arquitetura feita. Já existe articulação aqui para a gente apoiar a Dilma¿, afirma Jessé Santiago, candidato do partido no Acre. Da parte de Ciro, ele repetiu o que tem dito nas entrevistas dos últimos meses: ¿Sou candidato. Agora, farei o que meu partido quiser. Só o meu partido pode dizer o que quer de mim¿.