Título: Importação de insumos segue alta da produção
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 02/09/2005, Brasil, p. A3

Comércio exterior Dólar barato não acelera compra de matérias-primas, mas eleva busca por bens de capital

O ritmo de importação de matérias-primas está acompanhando o aquecimento da produção industrial. As indústrias não aproveitaram a valorização do real para formar estoques ou substituir quantidades expressivas de insumos nacionais por importados. O dólar barato favorece mais a importação de bens de capital e bens de consumo duráveis e não-duráveis, que estão crescendo acima da média. As compras externas de bens intermediários aumentaram 18,1% de janeiro a agosto, ante igual período de 2004. Esse item responde por mais de 50% da pauta de importação brasileira. Na comparação entre agosto de 2005 e agosto de 2004, a alta foi de 18,9%. As importações dessa categoria de produtos estão subindo, mas ficam aquém do crescimento de 21% das importações totais do país de janeiro a agosto. Parte da alta da importação de bens intermediários também se deve ao efeito dos preços. De janeiro a julho, os preços de importação das matérias-primas aumentaram 8%, enquanto a quantidade cresceu 7,5%, conforme a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). O crescimento do comércio mundial e a alta de commodities, como o petróleo, provocam aumento dos preços dos insumos industriais. Para Fernando Ribeiro, economista da Funcex, as importações de bens intermediários estão em linha com a produção industrial. Com a economia imune à crise política, a indústria cresceu 5% no primeiro semestre do ano, conforme o IBGE. O economista acredita que o desempenho das compras externas de insumos é normal para a economia brasileira, que deve crescer entre 3% e 3,5% este ano. Em 2004, a economia cresceu com mais vigor, 5%, puxada pela indústria, que subiu 8%. O resultado foi aumento de 30% das importações. "Não vai se repetir o que ocorreu no Plano Real, quando houve uma grande incorporação de importados na economia por conta do dólar. A indústria hoje atende a demanda com preços competitivos. A importação cresce, mas não explode", disse Ribeiro. Júlio Callegari, economista do J.P Morgan, também acredita que a quantidade importada de matérias-primas não está superando a produção industrial. "Não há formação de estoques para aproveitar o câmbio barato. As empresas estão confiantes que o dólar permanecerá nesse patamar", afirmou. A moeda americana fechou ontem a R$ 2,36. Desde o início do ano, o real se valorizou 12,37% ante o dólar. O aumento das importações é expressivo nos bens de capital e nos bens de consumo, que são mais sensíveis à variação do câmbio. As compras externas de bens de capital aumentaram 28,8% de janeiro a agosto, ante igual período de 2004. O ritmo de investimento das indústrias se intensificou nos últimos meses. Em agosto, as importações de bens de capital subiram 35,2%, ante agosto de 2004. A categoria representa 20% da pauta de importação. Já as compras externas de bens de consumo cresceram 20,3% de janeiro a agosto, ante igual período de 2004, com alta de 24% para os bens não-duráveis e 16,3% para os bens duráveis. Na comparação entre agosto de 2004 e agosto de 2005, as importações de bens não-duráveis cresceram 26,5%, enquanto os bens duráveis subiram 29,5%. Sérgio Vale, economista da MB Associados, lembra que é natural um aumento nas importações de bens de consumo no segundo semestre por conta das festas de fim de ano. Mas ressalta que o movimento deve ser mais intenso em 2005, por conta do dólar barato. O efeito do aumento dos preços é marginal na alta das compras externas de bens de capital e bens de consumo. Segundo a Funcex, o quantum importado de bens de capital aumentou 28% de janeiro a julho, enquanto os preços subiram apenas 0,4%. Nos bens de consumo duráveis, a quantidade importada cresceu 23% no mesmo intervalo, e os preços apenas, 1,7%. É apenas nos bens de consumo não-duráveis que o efeito dos preços é mais forte, 9,1%, com um aumento de 9,6% na quantidade importada. A retomada da atividade e a manutenção do câmbio devem estimular as importações nos próximos meses, que podem crescer em patamares próximos ao registrado em agosto. Para os economistas, o resultado das importações mais fortes será saldos comerciais menos expressivos para a balança comercial. A Funcex projeta aumento de 19% das importações em 2005, para US$ 75 bilhões. Os preços dos produtos importados devem subir 10%, enquanto a quantidade aumentará 8%. O J.P. Morgan prevê importações de US$ 75 bilhões, e saldo de US$ 41 bilhões. A MB Associados trabalha com saldo de US$ 41 bilhões e importações US$ 76 bilhões em importações. O governo projeta superávit menos expressivo: US$ 38 bilhões.