Título: UE e Mercosul negociam novo calendário
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 02/09/2005, Brasil, p. A3

A reunião ministerial Mercosul-União Européia, marcada para hoje, em Bruxelas, foi antecedida ontem de manifestações de vontade política de avançar a negociação do acordo de livre comércio birregional. Hoje, os ministros do Mercosul e três comissários da UE devem aprovar um calendário de trabalho que de certa forma condiciona a negociação bilateral ao que acontecer na Rodada Doha na Organização Mundial de Comércio (OMC). Assim, haverá uma reunião técnica antes da conferência da OMC de dezembro, em Hong Kong, e outra depois para avaliar os resultados. Pode ocorrer então uma reunião ministerial dos dois blocos, em abril, na perspectiva do encontro de cúpula América Latina-Europa em maio, em Viena (Áustria). "Vamos na direção de movimentos substanciais", avalia o negociador brasileiro Regis Arslanian. O comissário europeu de comércio, Peter Mandelson, conversou longamente por telefone com o ministro Celso Amorim, na terça-feira. Amorim teria insistido que as melhoras da oferta agrícola européia devem ir além do já prometido oralmente, por exemplo, cota superior a 156 mil toneladas para carne bovina. Quanto a uma das concessões chaves do Mercosul para os europeus, que é a cota para a entrada de automóveis com tarifa menor, o governo da Argentina deixou claro ontem que reserva sua posição, que pode não ser a cota de 40 mil carros definida entre associação de montadoras do Brasil e da Argentina. "Não são montadoras européias, Renault, Peugeot etc, empresários de Paris que negociam com argentinos, que são seus empregados, que definem a cota. Quem negocia isso é o governo, é o governo que assina o acordo", disse ontem em Bruxelas o secretário de Comércio Internacional da Argentina, Alfredo Chiaradia. Ele lembrou que a UE sempre deixou claro que tem mais ofertas no bolso, desde que o Mercosul dê a reciprocidade. Mas o que a Argentina diz é que o Mercosul já deu demasiado na negociação birregional. Chiaradia condicionou o sinal verde ao acordo das montadoras ao que resultar como um todo na negociação. "Senão não estaríamos negociando bem. O que passou até agora é que não negociamos bem", disse. "Somos lentos, mas seguros", disse.