Título: Até junho, 86% dos acordos pagaram aumento real
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 02/09/2005, Brasil, p. A4

Conjuntura Levantamento abrange 28 sindicatos da CUT em São Paulo

As negociações salariais do primeiro semestre deste ano surpreenderam positivamente. Segundo levantamento da Central Única dos Trabalhadores (CUT), no Estado de São Paulo, 86% dos acordos fechados resultaram em aumento real, ou seja, acima da inflação acumulada nos 12 meses anteriores à data-base. De 28 sindicatos pesquisados, em um total de 42 categorias, apenas 7% conseguiram repor somente as perdas inflacionárias, enquanto outros 7% não conseguiram recompor seu poder de compra. Os trabalhadores saíram vitoriosos mesmo em um cenário econômico e político menos favorável. O primeiro trimestre, por exemplo, foi de quase estabilidade econômica, pois o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,4% na comparação com o quarto trimestre do ano passado. Houve também o início da crise política a partir de maio. "Foi uma surpresa agradável", afirma Edílson de Paula, presidente da CUT/ São Paulo. Ele diz que a crise política não atrapalhou o andamento das negociações e espera resultados ainda melhores para o segundo semestre. Na avaliação de José Dari Krein, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) da Universidade de Campinas (Unicamp), o crescimento econômico verificado no ano passado deu força às reivindicações dos trabalhadores. "Eles colheram os frutos do dinamismo econômico de 2004", comenta. Além disso, Krein acredita que a política de valorização do salário mínimo, que passou de R$ 260 para R$ 300, estimulou as categorias a lutarem por aumentos reais, tendo como referência esse reajuste. No primeiro semestre deste ano, a maioria dos acordos - 46,2% - obteve aumentos entre 1% e 2% acima da inflação. Foi o caso dos metroviários e os empregados em empresas de alimentação do setor de frios e abatedouros. No mesmo período de 2004, na maior parte das negociações as elevações oscilaram entre 1% e 1,5%. Em 2005, outra boa parte (28,6%) conseguiu até 1% de reajuste real. Quase 11% obtiveram mais de 2% além da inflação. Os trabalhadores do setor de doces e conservas alimentícias conseguiram elevar o salário em 10%, o que significou aumento real de 4%. Os condutores de cargas da cidade de Dracena, interior do Estado, também tiveram uma bom acordo, com um percentual de 5% além da inflação. Segundo a CUT, este foi o melhor primeiro semestre dos últimos dez anos. No ano passado, por exemplo, menos da metade das negociações (49%) deu ganho real aos trabalhadores, sendo que 24% não chegaram nem a obter a inflação em 12 meses. O segundo semestre, no entanto, foi melhor. Nada menos do que 96% das negociações coletivas fecharam com aumento real. Como nos últimos meses do ano há uma concentração de categorias importantes e bem organizadas, como metalúrgicos, bancários e químicos, a expectativa é que os acordos sejam ainda melhores. Além disso, o presidente da CUT São Paulo afirma que os resultados recentes do PIB, que cresceu 3,4% no primeiro semestre e 1,4% no segundo trimestre deste ano, irão dar subsídio para reivindicações de aumento real. Ele espera que a média dos acordos feche com percentuais entre 2% e 4% acima da inflação do período.