Título: Ministros minimizam impacto da crise na economia
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 02/09/2005, Política, p. A6

Os ministros da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e da Fazenda, Antonio Palocci, e o presidente do BNDES, Guido Mantega, procuraram ontem minimizar o impacto da crise política, durante o Fórum Nacional organizado em Brasília pelo ex-ministro do Planejamento, João Paulo dos Reis Velloso especialmente para discutir os desdobramentos do escândalo que atingiu o governo Lula. Os representantes do governo foram contestados por outros participantes. De acordo com Palocci, o bom resultado do PIB no segundo trimestre e a convergência das taxas de inflação para a meta indicam um grau de proteção da economia raras vezes visto. "O governo tem procurado sinalizar diretrizes claras para a política econômica. O déficit nominal foi de menos de 3% nos últimos doze meses. A dívida atrelada ao câmbio caiu para 4%. O serviço da dívida externa era 82% em 2002 e 50% agora. São os melhores números de solidez e de indicadores de risco nos últimos 20 anos", disse o ministro. Com base nos mesmos argumentos, Mantega questionou a idéia de que a atual crise política é a mais grave desde a redemocratização. "A atual crise se dá em um contexto de sólidos alicerces sociais e políticos", afirmou. Para Bastos, " a situação é reconhecidamente de crise e isto não é novidade na história do Brasil". O próprio organizador do encontro tomou a palavra para transmitir qual a dimensão que via para a atual crise. "O país não pode ficar vendo a banda das CPIs passar. O povo se encontra possuído de ira sagrada . A sociedade tem direito à indignação e de fazer coisas em direção ao benefício do povo ", afirmou Reis Velloso. Cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais, Fabio Wanderley Reis afirmou durante o encontro que a crise política já provoca retrocessos. O pesquisador disse que a crise pode levar ao fim da polarização entre o PT e o PSDB, que estava criando uma identificação partidária crescente no eleitorado. O cientista se mostrou preocupado com a estratégia de defesa de envolvidos no escândalo em assumir a realização de caixa 2 em campanhas eleitorais, como se fosse um delito menor. "Não há espaço na ética para dúvidas e há uma tendência de se estabelecer uma gradação entre crimes aceitáveis e não aceitáveis. O raciocínio foi usado por Lula em sua famosa entrevista em Paris e seguido por Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Eduardo Azeredo. Mas parlamentares eleitos com dinheiro de caixa 2 não têm o mandato legítimo", disse. (CF)