Título: "Minha vida é a de um homem sem medo"
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 02/09/2005, Política, p. A8

O deputado José Dirceu (PT-SP), afirmou que seria um "linchamento político, uma violência" considerar o relatório das CPIs do Mensalão e dos Correios, ontem, como suficiente para determinar a cassação de seus direitos políticos. Dirceu repetiu ontem que não há provas que mostrem seu envolvimento em atos de improbidade administrativa ou de quebra do decoro parlamentar e comemorou o formato do relatório apresentado conjuntamente pelos deputados Osmar Serraglio (PMDB-PR) e Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), que, acredita, lhe dá chances de defesa. Ao lhe perguntarem se tinha medo da cassação, vangloriou-se: "Não, a minha vida é a de um homem sem medo". O parecer, enviado ontem à presidência da Câmara, "não é conclusivo", minimizou Dirceu. "Será enviado à corregedoria, ao Conselho de Ética, onde todos teremos direito de defesa", comentou Dirceu, após a apresentação do relatório. "É um avanço, da situação de ontem para a de hoje", disse, referindo-se a declarações, não concretizadas, de Serraglio, de que o relatório apontaria o ex-ministro da Casa Civil como "chefe da gangue do mensalão". Dirceu afirmou que a aprovação unânime do relatório apresentado ontem foi obtida após a apresentação de retificações pedidas por ele. Ele contesta a afirmação dos relatores, de que Roberto Marques, apontado como seu assessor, era um dos autorizados a movimentar dinheiro recebido do publicitário Marcos Valério. "O Roberto Marques não é meu assessor, é meu amigo; e não ficou comprovado que houve remessa de recursos para ele, ao contrário, aqui na CPI o documento não foi considerado autêntico", disse o deputado. Embora reconhecesse que sabia do empréstimo do BMG ao PT e da contratação de sua ex-mulher, Ângela Saragoça pelo mesmo banco, o ex-ministro fez questão de lembrar que tanto ela quanto Marcos Valério e o banco disseram à CPI que Dirceu não sabia dos empréstimos tomados por ela na mesma instituição. Dirceu rejeitou, também, a vinculação de seu nome às irregularidades cometidas por pessoas indicadas pelos partidos aliados à diretoria da Empresa de Correios e Telégrafos. "Da forma como ele coloca não posso aceitar, evidentemente; não posso ser acusado de improbidade administrativa porque alguém do Correio praticou corrupção."