Título: Irmão de Celso Daniel acusa Dirceu e Carvalho em esquema de extorsão
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 02/09/2005, Política, p. A9

O médico João Francisco Daniel, irmão do ex-prefeito assassinado Celso Daniel, afirmou ontem à CPI dos Bingos que o deputado José Dirceu (PT-SP) foi o beneficiário direto de um esquema de extorsão a empresários de ônibus em Santo André. A arrecadação com a propina era transferida diretamente a Dirceu, que na época presidia o PT, pelo atual chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho. João Francisco confirmou todas as declarações que havia prestado, em junho de 2002, ao Ministério Público de São Paulo, que investigava a morte do ex-prefeito. Carvalho foi secretário na gestão de Celso Daniel, tornou-se um dos seus homens de confiança e hoje é uma das pessoas mais próximas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem trabalha a poucos metros. O médico relatou à CPI que seu irmão sabia do esquema e alegou ter recebido essas informações do próprio Carvalho, três vezes, a primeira delas em 26 de janeiro de 2002 - oito dias após a descoberta do corpo do ex-prefeito. A conversa, afirmou, ocorreu na sala da sua casa e foi testemunhada por seu outro irmão, Bruno. "Preciso confidenciar uma coisa: o Celso sabia do esquema em Santo André", teria dito Carvalho aos irmãos do ex-prefeito. "Ficamos estupefatos", contou João Francisco. Segundo o relato, o atual chefe de gabinete da Presidência "disse que pegava seu Corsa preto e entregava [o dinheiro] na mão do deputado José Dirceu, então presidente do PT". A denúncia provocou reação quase imediata na CPI. Para o presidente da comissão, Efraim Morais (PFL-PB), a acusação é uma das mais "consistentes" feitas ao longo das investigações e o depoimento de Dirceu, já aprovado pela CPI, "não demorará a ser marcado". Parlamentares da oposição pediram a saída de Gilberto Carvalho do governo. O senador Leonel Pavan (PSDB-SC) disse que Carvalho "tem que, no mínimo, ser afastado" do cargo que ocupa no Palácio do Planalto. "Ele tem que ser demitido hoje (ontem) para que o presidente Lula não seja acusado de participar desse esquema", cobrou o líder da minoria no Senado, José Jorge (PFL-PE). No fim da tarde, Carvalho divulgou nota oficial em que contesta a veracidade das declarações de João Francisco. "Não afirmei a este senhor, em nenhum momento, que levei qualquer importância em dinheiro ao deputado federal José Dirceu, simplesmente porque nunca o fiz. Fica muito fácil afirmar - e posteriormente apresentar uma testemunha familiar - qualquer coisa a respeito de uma pessoa", disse Carvalho, no comunicado. Em relação ao assassinato "do nosso companheiro Celso Daniel", o chefe de gabinete de Lula afirmou que defende o prevalecimento da verdade. "Cumpre lembrar que desde o primeiro momento manifestei, por palavras e ações, o interesse de que a verdade prevalecesse", acrescentou. O irmão de Celso Daniel está convicto de que ele foi seqüestrado e assassinado por ter descoberto que o esquema, destinado a formar "caixa dois" para o PT, passou a destinar a maior parte dos seus recursos para o enriquecimento pessoal do trio responsável pela cobrança das propinas: o ex-secretário de serviços municipais Klinger de Oliveira, o empresário Ronan Maria Pinto e o ex-segurança Sérgio Gomes da Silva, o "Sombra" - este último é o principal suspeito de ser o mandante do seqüestro. "Os três estavam tirando proveito do esquema de Santo André para enriquecimento próprio", completou João Francisco, que entregou à CPI um dossiê encontrado no arquivo do prefeito assassinado, apontando Sombra como um dos mentores das operações ilegais na prefeitura. O irmão do ex-prefeito disse que Celso Daniel foi "barbaramente torturado" antes de morrer. A CPI convocou para depor os delegados responsáveis pelas investigações.