Título: Repasses saíam de uma única conta
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 02/09/2005, Política, p. A10
A CPI Mista dos Correios descobriu que as empresas de Marcos Valério de Souza, acusado de operar o pagamento do mensalão no Congresso, utilizavam uma conta única e exclusiva no Banco Rural para fazer repasses e pagamentos aos beneficiários indicados pelo ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, por meio de saques e transferências eletrônicas. Na busca pela origem dos recursos que abasteciam as empresas de Valério, a CPI já contabilizou o escoamento de pelo menos R$ 42 milhões por meio dessa conta. "Era uma espécie de caixa dois do caixa dois", resume o sub-relator de movimentações financeiras da CPI, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). A comissão concluiu, pela análise da contabilidade das empresas de Valério, que a conta não figurava em nenhuma das declarações de Imposto de Renda dele ou de suas empresas. A conta, lançada na contabilidade como "conta cheque emitido", era alimentada com recursos de todas as empresas de Valério numa frenética e suspeita movimentação de cheques e transferências eletrônicas, segundo Fruet. "Ficamos surpresos", diz. Segundo ele, os técnicos do Banco Central suspeitam de que a conta funcionava como uma forma de lavar dinheiro recebido de origens desconhecidas. "Tudo aponta para um modus operandi de lavagem de dinheiro", afirma Fruet ao referir-se à intensa entrada e saída de recursos de uma única conta. "É uma maneira eficiente de apagar o rastro de recursos ilícitos". A CPI fechou os dados de movimentação das empresas de Marcos Valério a partir das diversas quebras de sigilo. Eles mostram um incrível volume de dinheiro operados pelas agências do empresário. Em 2003, passaram pelas contas das empresas R$ 1,287 bilhão. No ano passado, o volume saltou para R$ 1,58 bilhão. Neste ano, somadas as entradas e saídas até meados de junho, foram R$ 601 milhões. "É um dinheiro fabuloso. Não desfiamos nem o começo desse novelo", afirma Fruet. O sub-relator informou também ter aumentado o volume de recursos depositados por três companhias telefônicas controladas pelo banqueiro Daniel Dantas - Amazônia Celular, Brasil Telecom e Telemig Celular - nas contas corporativas de Valério. A soma já bateu em R$ 145,59 milhões, segundo informações prestadas por 14 instituições financeiras que já enviaram dados à CPI. "Fica cada vez mais importante o depoimento de Dantas à comissão", diz Fruet. O banqueiro foi convocado para depor na CPI no dia 14 de setembro. Apesar de algum avanço, a CPI ainda briga com bancos, empresas de telefonia e órgãos do governo para obter informações de sigilo fiscal, bancário e telefônico de várias personagens envolvidos nas acusações de compra de votos e corrupção no Congresso e no governo. "Temos que fazer valer os poderes da comissão. Nem que seja à base da coerção", disse Fruet.