Título: Brasil terá papel central na terceirização de TI do ABN
Autor: Ricardo Cesar
Fonte: Valor Econômico, 02/09/2005, Empresas &, p. B3

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O Brasil terá papel de destaque na estratégia mundial para a área de tecnologia da informação (TI) anunciada ontem pelo banco holandês ABN AMRO. A IBM e a indiana Tata Consultancy Services (TCS), os dois principais vencedores da megaconcorrência de 1,8 bilhão de euros para terceirizar a estrutura tecnológica da instituição financeira, planejam centralizar grande parte de suas ações no país. A IBM, que levou a maior fatia do contrato - cerca de 1,5 bilhão de euros em cinco anos para prover serviços de infra-estrutura de tecnologia -, anunciou que os sistemas do banco ficarão concentrados em três data centers (áreas que abrigam os grandes computadores corporativos), localizados em Amsterdã, Chicago e São Paulo.

Já a TCS, que receberá 200 milhões de euros para cuidar da manutenção e da melhoria de softwares e sistemas, escolheu Índia, Brasil e Hungria como centros a partir dos quais atenderá o banco em todo o mundo. A TCS é a maior empresa de serviços de tecnologia da Índia, com faturamento de US$ 2,24 bilhões no último ano fiscal. Em entrevista ao Valor, S. Ramadorai, principal executivo da TCS, afirmou que a decisão trará investimentos e fará a operação brasileira da empresa aumentar significativamente. "Estamos levando maturidade, conhecimento e investimentos ao Brasil. Acreditamos que esse anúncio dará muita visibilidade à nossa operação brasileira, que crescerá com isso", disse. "É o maior acordo que já assinamos para utilizar nossa capacidade global." Para atender ao novo contrato, o executivo afirma que a TCS abrirá um centro de desenvolvimento de sistemas em São Paulo - o segundo no Estado e terceiro no país. A empresa também conta com uma estrutura em Brasília. O quadro de funcionários, atualmente com pouco mais de 300 pessoas no Brasil e 700 na América Latina, será ampliado. A TCS está ainda entre os cinco fornecedores escolhidos para desenvolver novos sistemas para o ABN, ao lado de Accenture, IBM, Infosys e Patni, o que pode ampliar significativamente o valor de seu contrato. Por sua vez, a indiana Infosys também fará suporte e melhoria de sistemas. Esses acordos começam a ser postos em prática em 1º de setembro e entrarão em vigor gradativamente nos próximos 18 meses. O contrato mais amplo é o da IBM, que compreende supervisão de serviços como operação, suporte e manutenção de "mainframes" e servidores (grandes computadores que controlam as redes corporativas), sistemas de armazenamento de dados, impressoras e computadores pessoais do ABN em todo o mundo. Também cabe à empresa gerenciar os principais bancos de dados para as unidades de negócios estratégicos do banco. Além disso, a "Big Blue" anunciou a criação de um centro de inovação para desenvolver serviços avançados de tecnologia para novos produtos financeiros. O contrato com a IBM entra em vigor em 1 de novembro. Em um comunicado, a matriz do ABN define a nova estratégia como um plano de terceirização parcial de tecnologia, envolvendo múltiplos fornecedores e "offshoring" - a prática de enviar serviços para outros países. O banco afirmou que as medidas levarão a uma melhora de desempenho e a ganhos de eficiência operacional. Com isso, a nova área de tecnologia do ABN ficará com aproximadamente 1,8 mil funcionários. Atualmente, a equipe mundial compreende 5 mil pessoas. Cerca de 2 mil profissionais serão transferidos para os fornecedores selecionados - a maior parte para a IBM. A redução total da equipe mundial de tecnologia será de cerca de 1,5 mil pessoas ao longo dos próximos 18 meses. O projeto promete gerar 258 milhões de euros de economia anual de 2007 em diante. Combinada com outras iniciativas, a área de TI ajudará o banco a atingir uma redução de gastos de 600 milhões de euros por ano a partir dessa data. O ABN ainda não se manifestou sobre demissões na subsidiária brasileira, mas Ramadorai, da TCS, afirmou que a empresa deve absorver funcionários do banco em alguns países, inclusive no Brasil. O executivo disse que o país foi selecionado por sua importância nos planos de expansão da TCS e pela forte presença do ABN. "O Brasil tem de ser visto de três ângulos: como um grande mercado interno a ser explorado, como um centro para abastecer o mercado latino-americano e como uma base para suporte a empresas dos EUA e Europa", afirmou. "Este acordo é muito importante para a nossa perspectiva de crescimento no país." Um executivo de uma grande empresa brasileira de tecnologia, que pediu para não ser identificado, lamentou o fato de nenhum fornecedor nacional ter sido escolhido pelo ABN. "As companhias de software e serviços do país ainda não conseguem disputar os grandes contratos mundiais", afirmou. Por apresentar bom custo e mão-de-obra qualificada, o Brasil tenta se posicionar como um destino onde as corporações multinacionais podem concentrar seus serviços de tecnologia. A Índia é hoje a líder desse mercado, que movimenta cerca de US$ 25 bilhões mundialmente e, segundo a consultoria Gartner, crescerá seis vezes até 2010. O anúncio do ABN também é importante pela possibilidade de abrir uma nova era para os bancos brasileiros, tradicionalmente avessos à terceirização de tecnologia. O setor financeiro é dono dos maiores orçamentos de tecnologia da informação do país e investe anualmente mais de R$ 12 bilhões na área.