Título: Venda de carros sobe 17% e segura ritmo de crescimento do setor
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 02/09/2005, Empresas &, p. B7

Veículos Resultado de agosto indica que meta de produção do ano deverá ser ultrapassada

O licenciamento de carros de passeio e comerciais leves em agosto atingiu o volume de 143,5 mil unidades. Isso representa um aumento de 10% em comparação com julho e de 17,7% em relação ao mesmo mês do ano passado. Foi o melhor agosto dos últimos anos e mostra que a indústria automobilística continua à margem dos problemas políticos e entraves macroeconômicos no país. No acumulado do ano, a venda dos carros de passeio e veículos utilitários leves atingiu a marca de 1,026 milhão de unidades, o que representa um incremento de quase 15% na comparação com os oito primeiros meses de 2004. Os números do varejo surpreenderam os próprios executivos do setor e indicam que a exportação não é a única alavanca dessa indústria que parece não perder o fôlego a despeito da crise política, juros altos e desvalorização do dólar. Depois de saber do resultado das vendas em agosto, o diretor da TRW, um dos maiores fornecedores de autopeças do país, Wilson Rocha, concluiu que a produção de veículos neste ano vai chegar a 2,4 milhões de unidades. Se esse volume for alcançado, a meta das montadora de fabricar 2,3 milhões de unidades será ultrapassada. A TRW está trabalhando com a possibilidade de a produção de agosto ter atingido 230 mil unidades. O número real será anunciado na terça-feira. "A credibilidade do consumidor que está comprando veículos demonstra que esse mercado está passando à margem de qualquer crise na política", afirma Rocha. Além de um mercado interno que continuou firme em um mês marcado por promoções para desovar o estoque da linha 2005, as exportações também continuam puxando a atividade na indústria automobilística. Por conta do fôlego das encomendas que vêm do exterior, os fabricantes de autopeças acabam de refazer os cálculos do seu faturamento. O presidente do Sindipeças, paulo Butori, diz que a receita global do setor chegará a US$ 20 bilhões neste ano. A previsão inicial era de US$ 18 bilhões. "A exportação é o que está movimentando esse setor", afirma Butori. As vendas externas da indústria de componentes automotivos somaram US$ 4,177 bilhões de janeiro a julho. Isso representou um incremento de 30,37% em comparação com igual período do ano passado. Da mesma forma, as importações também cresceram, seja por conta de um dólar mais favorável, seja por conseqüência do próprio aumento da produção de veículos que ainda usam componentes vindos do exterior. As compras no exterior na indústria de autopeças somaram nos primeiros sete meses do ano US$ 4,010 bilhões. Isso representou um aumento de 29% em comparação com os US$ 3,106 bilhões de igual período do ano passado. Mesmo assim, a balança comercial do setor manterá superávit até o final do ano, segundo o Sindipeças. Algumas montadoras, como Volkswagen e General Motors, chegaram a se queixar, nos últimos dias, da perda de volumes de exportação, principalmente para o México, por conta da valorização do real. No segmento de caminhões, a indústria chegou a passar por um susto nos últimos dias. O presidente da Volkswagen Caminhões, Roberto Cortes, afirma que, talvez para aguardar os desdobramentos da crise política, alguns transportadores que se preparavam para trocar a frota acabaram adiando a troca dos veículos. Pesou nesse cenário que Cortes chama de "um soluço" a perda da rentabilidade na agricultura. A indústria de fundição foi outro segmento que também sentiu perda da encomendas das montadoras de veículos pesados. Mas os executivos do setor apostam que o quadro vai melhorar ainda mais a partir deste mês. Eles contam com uma queda na taxa básica de juros e, como conseqüência, uma alta do dólar. Em meio a um cenário positivo, não é fácil encontrar representantes do setor dispostos a comemorar os resultados. Em plena fase da campanha salarial dos metalúrgicos, todos os segmentos da indústria automotiva estão envolvidos numa negociação em que os trabalhadores foram fortalecidos pelo ritmo frenético da indústria.