Título: Desânimo também predomina entre mato-grossenses
Autor: Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 02/09/2005, Agronegócios, p. B12

O desânimo em relação à safra 2005/06 - diante do câmbio, dos preços internacionais dos grãos e do endividamento dos produtores - também domina o Mato Grosso, que pelo menos não enfrentou problemas climáticos significativos na temporada 2004/05. Responsável por um terço da produção de soja, 45% da safra de algodão e 10% da oferta de milho do país, o Estado deve reduzir a área plantada total em 15%, ante os 7,858 milhões de hectares cultivados no ciclo passado , segundo estimativa preliminar da Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso (Famato). Homero Pereira, presidente da entidade, diz que a redução deve-se à queda na renda dos produtores, à inadimplência no Estado (estimada em R$ 1,5 bilhão) e à dificuldade de acesso ao crédito rural. "Há uma clara redução dos investimentos em tecnologia, que se converterá em queda de área e produtividade". Para a soja, carro-chefe da produção agrícola mato-grossense, a Famato prevê redução da área entre 5% e 10% em 2005/06, para entre 5,5 milhões e 5,8 milhões de hectares. A produção, segundo Pereira, deve recuar pelo menos 10% sobre as 16,22 milhões de toneladas colhidas no ciclo 2004/05. A Famato realiza um estudo de intenção de plantio de grãos que será divulgado no fim do mês, mas já adiantou que a redução deve ocorrer em novas fronteiras agrícolas, especialmente no sul do Estado. O escritório regional da Conab também informou que só realizará estudo de intenção de plantio a partir de outubro e, no dia 8, deve divulgar o último levantamento da safra 2004/05. Dario Hiromoto, diretor superintendente da Fundação de Amparo à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), observa que as vendas de sementes estão mais lentas neste ano. Segundo ele, as entregas de sementes de soja (que giram em torno de 8 milhões de sacas/ano) estão praticamente paradas. As entregas de adubos estão 50% menores e as de defensivos não chegam a 10% do volume do mesmo período de 2004. "Pelo andamento das vendas de insumos, a expectativa é de uma redução de 5% a 10% na área". Contribui para o cenário a demora na comercialização da safra 2004/05. Seneri Paludo, analista da Agência Rural, diz que 28% da safra 2004/05 de soja (o equivalente a 4,8 milhões de toneladas) ainda não foi vendida, quando em igual período do ano passado esse índice era de 10%. "Ainda há muita soja estocada e encadear uma safra na outra afetará mais os preços", diz. A Agência Rural prevê para a safra 2005/06 queda de 8% na área plantada de soja, para 5,55 milhões de hectares, com produção até 5% menor, para 15,98 milhões de toneladas. Paludo observa que as chuvas que caíram no fim de agosto na região de Lucas do Rio Verde devem favorecer o plantio precoce de soja no Estado. "Mesmo assim, a área plantada deve ser menor porque os produtores não podem sofrer mais perdas e o plantio precoce é de alto risco. Eles devem apostar na segurança", avalia. A corretora estima, ainda, uma expansão da área de milho para a safra de verão de até 8% - na comparação com os 133,7 mil hectares do ciclo 2004/05, segundo a Conab - e redução de até 20% na área de algodão, que no ciclo passado foi de 451,6 mil hectares. Neste caso, a queda reflete os elevados custos de produção e à retração das cotações da pluma no exterior.