Título: CPI investiga tráfico de influência de consultoria
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2005, Política, p. A5

Crise Saques, na boca do caixa, com carro-forte somaram R$ 6,3 milhões

Integrantes da CPI dos Bingos estão convencidos de que o advogado Walter Santos Neto, dono da consultoria jurídica MM, alimentou um esquema de lavagem de dinheiro e tráfico de influência no governo petista. Dados em poder da comissão revelam movimentação financeira atípica para um escritório de advocacia modesto, sediado em Belo Horizonte. A quebra do sigilo bancário de Walter Santos identificou pelo menos cinco saques na boca do caixa, que totalizam R$ 6,3 milhões, todos com uso de carro-forte em uma agência do Bradesco na capital mineira. Os maiores saques foram feitos entre 16 e 22 de junho de 2004, período de campanha eleitoral, e somaram R$ 5,7 milhões. "Ele é o tipo de cidadão que eu chamo de laranja vip", comenta o presidente da CPI, Efraim Morais (PFL-PB). O que intriga os parlamentares da comissão são justamente as ligações do advogado. Por uma medida liminar obtida para a Gtech do Brasil junto ao Superior Tribunal de Justiça, referente ao contrato da empresa com a Caixa Econômica Federal, Walter Santos recebeu R$ 5,080 milhões da multinacional americana entre outubro de 2002 e junho de 2003. Nesse intervalo foi renovado o polêmico contrato de R$ 650 milhões entre Gtech e Caixa. Em depoimento prestado na semana passada à Polícia Federal, ao qual o Valor teve acesso, Walter Santos disse que chegou à Gtech por meio do advogado Hélcio Cambraia, também de Belo Horizonte, que tinha experiência em loterias. Cambraia o apresentou à figura controvertida de Enrico Gianelli, ex-advogado da Gtech que colocou os dois executivos da empresa à época com Rogério Buratti, o ex-assessor do ministro Antonio Palocci. Gianelli e Buratti se conheceram por causa de um hobby em comum: o interesse por motocicletas e sofisticadas. De conversas de fim de semana, evoluíram para a discussão de negócios milionários. É o que se sabe por enquanto. Buratti garante que recebeu uma proposta de propina da Gtech por meio de Gianelli, a Gtech diz que foi achacada por Buratti, mas as duas versões passam por Gianelli - que, por sua vez, alega ter sido ameaçado pelo ex-diretor de marketing da empresa, Marcelo Rovai. Até agora, porém, sabe-se apenas de uma pessoa que recebeu tamanha bolada da multinacional americana: Walter Santos, um advogado de experiência pouco expressiva que, dizendo-se especialista em processos em tribunais superiores, defendeu apenas seis casos no STJ. Seus vínculos com Gianelli fazem a CPI observá-lo com suspeição. Técnicos ponderam que ainda não sabem quem é a ligação política de Walter Santos, mas acreditam que a chegada de dados do seu sigilo telefônico pode esclarecer isso. "Não resta a menor dúvida de que ele participava de um esquema ilegal", diz o senador Geraldo Mesquita (PSOL-AC), integrante da CPI, que acredita no envolvimento do advogado com um lobby da Gtech para renovar o contrato com a Caixa. "Não dá para crer que uma simples medida cautelar tenha rendido R$ 5 milhões ao escritório dele." Na MM, Walter Santos é sócio de Marcelo Aguiar, que até recentemente trabalhava na Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República. Mas ambos assumem a versão de que, desde o fim de 2000, não se falam mais. Aguiar afirma que tentou desativar a empresa, mas não conseguiu por resistência de Walter Santos. O escritório constava até 2002 como empresa inativa, embora tivesse movimentação bancária elevada. O advogado mineiro também recebeu R$ 22 milhões da Camargo Corrêa e R$ 900 mil da Mendes Júnior. As empreiteiras rejeitam insinuações de irregularidades. Walter Santos negou, no depoimento à PF, que os honorários recebidos da Gtech tenham servido para pagamento de propina "a qualquer político". À CPI, ele sustentou a tese de que sacava altos valores da sua conta bancária para manter seu padrão de vida, fazer viagens e comprar vinhos caros. A reportagem do Valor procurou Walter Santos e deixou recados no seu telefone celular, na sexta-feira, mas ele não retornou as ligações.