Título: Delcídio diz que grandes empresas serão convocadas
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2005, Política, p. A5

"Acho que vêm grandes empresas por aí", confidenciou um integrante da CPI Mista dos Correios, sinalizando que superada uma fase mais política das investigações, que tratava do envolvimento de parlamentares no suposto esquema de corrupção, começam as cobranças para a comissão dar respostas sobre a origem do dinheiro. Nesta semana, os parlamentares da CPI prometem analisar vários documentos, contratos e transferências de sigilo de contas e empresas ligadas ao empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Os depoimentos do banqueiro Daniel Dantas, dono do Grupo Opportunity, e do ex-ministro Luiz Gushiken (secretário de Comunicação e Gestão Estratégica) estão confirmados para a próxima semana, garantem os integrantes da comissão. Já foram aprovadas as convocações de dirigentes do Banco Rural e do BMG. Kátia Rabello, presidente do Rural, prestaria depoimento nesta semana, mas foi adiado devido ao feriado de 7 de setembro. Ricardo Guimarães, do BMG, também prestará depoimento. As datas não foram decididas. Os dois bancos fizeram empréstimos a Marcos Valério de Souza. A CPI já desconfia que não há um único esquema para explicar a origem dos recursos que abasteceram o PT e outros partidos aliados. Além do esquema com os bancos, a suposição é que havia ainda desvios de recursos de estatais, triangulações entre corretoras e fundos de pensão e também empresas privadas. O presidente da CPI Mista dos Correios, Delcídio Amaral (MS), admite que a forte pressão política sobre o Congresso e as cobranças por apuração do envolvimento de parlamentares no suposto esquema de corrupção levou os integrantes da comissão a deixar para segundo plano a investigação sobre a origem do dinheiro que entrou nas contas de Marcos Valério. Ao ser indagado sobre quais empresas poderiam ser foco das investigações da CPI - além dos 10 fundos de pensão dos quais a comissão já aprovou a transferência de sigilos constitucionais -, o senador não é incisivo: "Não discutimos isso ainda porque estava um sufoco a questão política. Agora teremos condição de baixar a bola, fazer algo menos político, bastante técnico". Não há chances, segundo ele, de a CPI se intimidar ao se deparar com grandes nomes do setor produtivo e financeiro. "Podemos convocar de forma qualificada as pessoas. Será uma fase muito importante da comissão. Construiremos soluções para mitigar essas possíveis irregularidades no sistema financeiro", garante Delcídio. Os integrantes da comissão dão como certa a convocação de dirigentes do Instituto Resseguros do Brasil S.A (IRB), de bancos, e grandes empresas, como a siderúrgica Usiminas - já citada anteriormente.