Título: Futuro de Alencar passa por Lula e Aécio
Autor: Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2005, Política, p. A6

Se tivesse que decidir agora, a opção política do vice-presidente, José Alencar, para 2006, seria a disputa por uma vaga ao Senado. Mas a certeza dos aliados de Alencar é que seu futuro político será combinado com o governador de Minas, Aécio Neves, e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O vice-presidente já tomou, porém, uma decisão: vai deixar o PL, o partido que se aliou ao PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para formar a chapa vencedora na campanha presidencial de 2002. Na sexta-feira à noite ele comunicou esta decisão, que vinha amadurecendo desde a eclosão da crise política, ao presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, numa conversa rápida. Alencar estava insatisfeito com o envolvimento do partido nas denúncias . A convocação de uma reunião do diretório para discutir o apoio ao governo Lula foi a gota d'água. José Alencar tem até o fim do mês para formalizar seu ingresso em outro partido. Já recebeu convites para ingressar no PMDB, PFL, PSB, PDT e PPS. Tanto o PMDB, quanto o PPS, porém, não abriram a legenda para uma candidatura presidencial de Alencar no ano que vem. José Alencar, de acordo com seus aliados mineiros, ministros e empresários, tinha atendido a um pedido do presidente Lula e parado de criticar a política econômica. Nos últimos dias, porém, coincidindo com o amadurecimento de suas decisões partidárias, o vice voltou a seu tema predileto. "Não é possível deslanchar de vez a economia e acompanhar as taxas de crescimento mundiais pagando juros 20 vezes a de países em desenvolvimento", discursou, durante reunião na semana passada da bancada do PL. O grupo político de Alencar também deve deixar o PL. Os nove deputados e o senador do partido em Minas se reúnem hoje com o vice-presidente para começar a acertar o novo destino. O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, aliado de Alencar, se encontra hoje com Lula para discutir seu futuro político. Para resgatar o PL como partido viável, Alencar tinha simpatia pela idéia de eleger Alfredo Nascimento presidente da legenda. Mas a realidade política o desanimou. Valdemar da Costa Neto tem amplo apoio interno porque ajudou a estruturar o partido e dar homogeneidade a uma legenda que era pouco mais que um agrupamento de deputados evangélicos. Outra estratégia que Alencar via com bons olhos era a de começar a discutir uma possível fusão do PL com PTB e PP. Mais uma vez a realidade falou mais alto e a proposta também foi derrotada: parlamentares do PP consideraram que a fusão só serviria para diminuir seus espaços regionais. Alencar já passou por dois partidos. Pelo PMDB, em 1994, foi derrotado ao governo de Minas. Em 1998, com um pouco mais de experiência, e com toda a campanha financiada por ele próprio, venceu a disputa ao Senado e desbancou um dos políticos mais tradicionais do Estado, o ex-governador Hélio Garcia. Chegou ao Senado e, em 2001, disputou sua indicação para a presidência da Casa pelo PMDB, tendo recebido apenas seu voto. Nesta época, já havia rompido com Itamar Franco, e decidiu se filiar ao PL. Vem daí parte da resistência em voltar para o PMDB. As relações pessoais de Alencar com o presidente já se transformaram em amizade, mas ele se mantém próximo também nas questões de governo. O vice continua a participar de todas as reuniões de coordenação, mesmo as que acontecem na Granja do Torto no fim de semana, inclusive as que decidiram a reforma ministerial e as estratégias para o enfrentamento da crise. Integra também o gabinete de crise. No fim do ano passado, Alencar ganhou mais espaço e Lula o nomeou ministro da Defesa, surpreendendo até auxiliares mais próximos. Mas Alencar não se entusiasma com o cargo. No Ministério despacha cada vez menos e a administração da área foi entregue, na prática, de volta aos comandantes de cada força e a assessores ligados a ele. Esteve na Defesa pela última vez na segunda-feira da semana passada, para a reunião mensal do Conselho de Administração da Infraero, que discutiu as dívidas das companhias aéreas. Pouco falou. Apesar do distanciamento do ministro, a Defesa tem conseguido vitórias no Congresso, como a aprovação do projeto que cria a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e o aumento de 23% para os salários dos militares. Alencar não descartou ainda repetir a dobradinha com Lula em 2006, entrando novamente na chapa como vice. "O problema é que ninguém se candidata a vice. O cargo é um convite", comenta Edmar Moreira (PL-MG). Concorrer ao governo de Minas, pelo menos por enquanto, também só estará em questão se Aécio Neves não se recandidatar ao governo, optando por tentar a Presidência. Alencar já tranqüilizou Aécio de que não disputará com ele. O prazo para mudança de partido para a disputa das eleições do ano que vem termina no próximo dia 30. O certo é que ele não quer parar em 2006. No ano passado, numa conversa com o presidente, no Palácio do Planalto, Lula lhe disse que gostaria de se aposentar depois da passagem pela Presidência (e de um segundo mandato que, na época, era praticamente certo). Ao final da conversa, Alencar também se disse cansado, e revelou que estaria também a caminho da aposentadoria. E brincou: "Me aposentarei em breve. Antes, devo disputar apenas mais três ou quatro eleições".