Título: Resultados do PIB animam Lula à reeleição
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2005, Política, p. A7

O resultado positivo da economia no segundo trimestre deu novo ânimo político ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O cálculo é que ele chegue ao início do próximo ano, véspera da eleição, fortalecido pelos indicadores que, segundo estimativas da equipe econômica, serão ainda melhores que os do segundo trimestre de 2005. O Palácio do Planalto avalia que, se as cassações de deputados ocorrerem logo, a crise política, iniciada há mais de três meses, perderá intensidade. A idéia de que a crise não terminará em "pizza", avaliam assessores próximos do presidente, ajudará Lula a recuperar sua popularidade, em queda desde o início da turbulência política. Nesse cenário, o bom desempenho da economia será fundamental para o presidente. Embora nem todos no governo pensem assim, em torno de Lula prevalece a tese de que o presidente sobreviverá à crise, mas o PT, não. O partido possivelmente será o que mais perderá deputados por causa do escândalo de corrupção - da lista de cassação sugerida pelas CPIs dos Correios e do Mensalão, constam sete petistas. O que agrava ainda mais a situação da sigla para as eleições de 2006 é o fato de o PT continuar discordando da política econômica, que, em última instância, tem sido o sustentáculo do governo Lula. Os resultados da economia no segundo trimestre surpreenderam até a equipe econômica. Todas as estimativas feitas pelo Banco Central e o Ipea foram superadas pela realidade. O BC projetou, para o período entre abril e junho, expansão de 1,6% no setor industrial. O Ipea apostava em alta de 1,8%. Os dados do IBGE mostram que o avanço foi de 3%. O BC acreditava que o Produto Interno Bruto (PIB), depois de evoluir apenas 0,4% no primeiro trimestre, cresceria 1% no trimestre seguinte. A expansão acabou sendo de 1,4%, superando também a expectativa média do mercado para o mesmo período - 1,2%. Diante desses números, a equipe econômica passou a trabalhar, ainda que de forma reservada, com a possibilidade de o PIB expandir 4% ou mais já em 2005 - para 2006, a expectativa, considerada conservadora pelo Ministério do Planejamento, é que o país cresça 4,5%. O que chamou muito a atenção dos técnicos do governo nos números do segundo trimestre foi o comportamento da chamada formação bruta de capital fixo, um indicador que mede os investimentos feitos pelo setor produtivo. Depois de registrar variação negativa de 0,8% no primeiro trimestre do ano, a taxa de investimento aumentou 4,5% entre abril e junho. Isso indica que as empresas estão comprando bens de capital (máquinas e equipamentos) porque apostam que a economia continuará expandindo nos próximos trimestres. Como a equipe econômica acredita que a tendência da taxa básica de juros (Selic) é começar a cair neste fim de ano, estariam criadas as condições para uma aceleração da atividade econômica nos próximos meses. Outro dado positivo que inspira otimismo no governo é o fato de a inflação seguir em queda, mesmo em meio ao crescimento mais forte do PIB. Além disso, assinalam técnicos da área econômica, os indicadores de produção industrial, atividade na indústria paulista e vendas do varejo são os mais elevados dos últimos seis anos. Mesmo a taxa básica de juros, que neste momento é a mais alta do planeta, está, no período entre 2003 e 2005, no patamar médio mais baixo dos últimos 11 anos, em termos reais. Não é unânime, no entanto, a avaliação de que o presidente, ajudado pela economia, chegará forte a 2006, a ponto de disputar a reeleição com chances de vitória. Na opinião do grupo mais pessimista, a economia ajudará a melhorar a popularidade de Lula, mas apenas o suficiente para que ele termine o mandato com uma imagem melhor que a atual. "Estamos fora de qualquer aventura eleitoral", diz um assessor. O problema do governo, assinalam integrantes desse grupo, continua sendo a falta de articulação na área política. Dois exemplos mencionados foram a derrota sofrida na derrubada do veto presidencial ao aumento dos servidores do Congresso e a constituição da CPI dos Bingos, onde o governo tem apenas três votos, contra 12 da oposição. "Se quiser convocar o filho do presidente para depor, essa CPI o fará", reclama um colaborador de Lula.