Título: Remuneração divide cadeias produtivas
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2005, Especial, p. A12

Se a recuperação de preços devolveu a harmonia nas relações entre cafeicultores e torrefadoras, tornaram-se mais comuns neste ano, em diversas outras cadeias do agronegócio, rusgas envolvendo a remuneração conferida a produtores por tradings ou indústrias. Vieram à tona, como noticiou o Valor, atritos entre pecuaristas e frigoríficos, entre plantadores de cana e usinas, entre citricultores e empresas de suco e, ainda em 2004, entre sojicultores e tradings. Em geral, os problemas apareceram em segmentos com exportações crescentes e/ou com cotações em alta no mercado internacional. Foi o caso da soja, que no ano passado - antes, portanto, da crise atual - foi motivo de rompimento de contratos de fornecimento e ações na Justiça, principalmente em áreas do Estado de Goiás. No caso da citricultura, as relações estavam mais complicadas há alguns meses, mas o processo de renegociação de contratos de fornecimento de longo prazo em meados deste ano melhorou a situação, pelo menos do ponto de vista dos preços pagos aos produtores. Segundo a Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), novos contratos foram reajustados e saíram, em média, por US$ 3,50 a caixa de 40,8 quilos. Em grande parte, o reajuste refletiu o aumento da tonelada do suco brasileiro na Europa, seu principal mercado, de US$ 800 para US$ 1.000. Na área de açúcar e álcool, que surfa em ondas favoráveis em virtude dos bons preços e demanda, os plantadores de cana insistem em rever o atual modelo de pagamento, o Consecana, em uma discussão ainda em curso. Os fornecedores de cana dizem que não são beneficiados pelos aumentos do açúcar e do álcool no mercado internacional. E parte desses produtores chegou inclusive a propor que o pagamento pela matéria-prima entregue seja feito em produto, ou seja, em açúcar ou álcool, para que eles mesmos possam negociá-los. Essas discussões levaram o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, a ameaçar com possíveis intervenções federais no setor. Na área de carnes, as discussões entre pecuaristas e frigoríficos de carne bovina esquentaram nos últimos meses. Os criadores alegam que os ganhos com as vendas externas não são repassados. Apesar da demanda internacional, os preços da arroba do boi estão em queda no mercado doméstico por causa da maior oferta. Conforme a Scot Consultoria, o preço médio em agosto - R$ 51,95 por arroba - foi o menor numa série histórica de 35 anos, deflacionadas as cotações pelo IGP-DI .(MS, com Alda do Amaral Rocha e Fernando Lopes)