Título: Robôs conquistam espaço fora das fábricas
Autor: João Luiz Rosa e Ricardo Cesar
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2005, Empresas &, p. B3

Automação Tradicionais na linha de montagem, dispositivos começam a exercer funções em casa e no escritório

Em 1977, quando tinha dez anos de idade, Sérgio Costa saiu maravilhado de uma sessão de cinema. Ele havia acabado de assistir ao filme Star Wars e estava decidido a construir algo semelhante ao robozinho R2D2, "mesmo sabendo que não tinha capacidade para isso", relembra ele. Na quinta-feira, dia 8, Costa terá sua desforra. Entre outras invenções, ele vai levar à Robótica 2005 - o primeiro salão dedicado ao assunto no Brasil - duas réplicas do herói de infância, ambas feitas de sucata. Não estará sozinho. Os robôs ainda estão distantes dos exemplares avançados da ficção científica, mas estão saindo do campo da imaginação e das linhas de produção, onde existem há décadas, para ocupar novos espaços nas companhias e na casa das pessoas. Um exemplo é o Trilobite, o aspirador-robô que a sueca Electrolux levou dez anos para desenvolver. "Ele emite ondas de ultra-som e funciona como um morcego ou um submarino", compara Paulo Petroy, gerente de marketing da divisão de eletroportáteis da empresa. Os sinais sonoros, imperceptíveis às pessoas e animais domésticos, são refletidos pelos objetos e capturados de volta pelos microfones do Trilobite. Vendido a R$ 6 mil, o robô da Electrolux interrompe o trabalho quando percebe que a bateria está fraca e vai sozinho para o carregador. Depois, recomeça de onde parou. Na semana passada, o Trilobite ganhou concorrência, com o lançamento pela LG de seu próprio aspirador-robô. O chão da sala não é o único lugar a que os robôs estão chegando. A Rotech, criada por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), criou um robô que viaja por gasodutos para fazer soldas e inspecionar o trabalho. O produto está em uso na Petrobras, que também adotou o Pig, criado pela Pipeway. O robô inspeciona os dutos de petróleo, de onde sai sujo, o que explica seu nome. "Há muitas oportunidades de negócio a ser exploradas na robótica, mas talvez os investidores não estejam atentos", observa José Reinaldo da Silva, professor doutor do Departamento de Mecatrônica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). É o caso de robôs usados para fazer protótipos de produtos como celulares ou na criação de próteses faciais, uma área na qual o Brasil tem reconhecimento internacional, diz Silva. "Em vez de resina, as próteses poderiam usar materiais como fibra de mamona." Já a Symphony, criada por Costa, especializou-se em robôs para fins educativos. Mais de cem escolas já compraram seus produtos, diz o empreendedor. Há duas outras linhas de negócio. Uma é a venda de kits para quem gosta de fazer robôs em casa ou "robistas". No site que Costa abriu na web, 500 adeptos desse hobby trocam informações. A Symphony também aluga robôs para fins publicitários. Eles andam, reconhecem a proximidade de pessoas por sensores de calor e transmitem mensagens. Mas se os robôs ensaiam os primeiros passos no mercado de consumo, ainda é no chão-de-fábrica que eles encontram mais espaço - e onde constituem um mercado já maduro. A indústria automobilística é o grande filão, consumindo mais da metade da produção mundial. O Brasil, com um parque de aproximadamente cinco mil robôs industriais, não é exceção. O país compra de 200 a 250 unidades por ano, número que chega a dobrar quando alguma montadora investe em uma nova fábrica. "Ainda somos um mercado pequeno em termos mundiais", afirma José Teixeira Brandão Neto, presidente da subsidiária da Fanuc Robotics, empresa americana que fornece robôs industriais. A indústria automobilística responde por mais de 70% dos negócios da Fanuc no Brasil, que este ano prevê vendas locais de R$ 25 milhões. A subsidiária não fabrica os robôs, mas desenha os projetos de automação de plantas industriais e executa o trabalho de integração. O custo de um robô no país situa-se entre R$ 200 mil e R$ 2 milhões. O Brasil não é um grande centro desenvolvedor de robótica industrial. "Os robôs são fabricados no exterior e colocados na linha de manufatura aqui. Quase tudo vem de fora. Somos bons usuários, apenas isso", diz Reinaldo Augusto Bianchi, professor do departamento de engenharia elétrica da Fundação Educacional Inaciana (Fei). "Existem muitas faculdades que trabalham nessa área, mas falta apoio financeiro." Mesmo assim, há chances a aproveitar. Enquanto a parte mecânica de um robô dura 30 anos, a de eletrônica varia entre oito e 12 anos, diz Silva, da USP. Depois disso, muitas empresas se desfazem dos modelos. Com uma atualização dos sistemas, porém, é possível recuperar o robô e revender por até R$ 50 mil, aquilo pelo qual se pagou R$ 15 mil em média, estima o pesquisador. No mundo futurista dos robôs, também há espaço para os produtos de segunda mão.