Título: CVM analisa operação contábil que elevou lucro no segundo trimestre
Autor: Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2005, Empresas &, p. B7

O balanço divulgado pela Bombril no segundo trimestre deste ano está sob análise na área técnica da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que poderá obrigar a empresa a republicá-lo. O objeto da apuração seria uma operação contábil adotada pela companhia, que elevou o resultado do período. De abril a junho, a Bombril lucrou e R$ 124,2 milhões. Para isso, contou com uma ajuda não-recorrente da controlada Bombril Overseas - subsidiária não-operacional que carrega dívidas e créditos oriundos da época de Sergio Cragnotti. No quarto trimestre do ano passado, a Bombril S.A. excluiu das demonstrações financeiras a Overseas - cujos documentos estão arrestados pela Justiça italiana. Para isso, fez uma provisão de R$ 255,8 milhões. A decisão foi mantida no primeiro trimestre de 2005. Porém, a empresa colocou a Overseas novamente no balanço no segundo trimestre, quando o real teve uma valorização expressiva. Para isso, contratou a Partnership Auditores e Consultores, que fez uma estimativa dos ativos da subsidiária. O balanço da Bombril S.A. é auditado pela BDO Trevisan, que fez ressalva sobre os registros contábeis da subsidiária. O diretor-superintendente da Bombril, Cláudio Del Valle, afirma que a Overseas foi recolocada no relatório trimestral a pedido da CVM. "Quisemos tirar e a CVM mandou devolver", diz o presidente da empresa, José Edson Bacellar Jr. A autarquia, no entanto, contesta a informação. Segundo a assessoria de imprensa, foi a diretoria da Bombril que procurou o órgão para consultá-lo sobre o assunto. Mesmo descontado o efeito causado pela Bombril Overseas, a Bombril melhorou seu resultado na primeira metade de 2005. A receita e o lucro da atividade cresceram. Segundo Del Valle, isso é reflexo da estratégia adotada no ano passado, quando a Bombril reduziu a produção e reajustou preços. Apesar disso, a companhia permanece numa situação financeira delicada. Em junho, tinha patrimônio líquido negativo em R$ 592,1 milhões e déficit de R$ 197,8 milhões no capital de giro, cenário que vem se repetindo nos últimos anos. A Bombril também tem passivos pendentes, como uma multa de R$ 1 bilhão aplicada pela Receita Federal no início do ano. O reflexo da crise é nítido nas ações da empresa. O valor de mercado da Bombril, que atingiu o pico de R$ 782,7 milhões em 2001, hoje está em torno de R$ 350 milhões. Anos seguidos de mau desempenho, operações tortuosas feitas na época de Cragnotti e, mais recentemente, a disputa judicial contribuíram para castigar os papéis e afugentar os investidores. Com uma série de medidas adotadas e amplamente divulgadas pela diretoria para recuperar a empresa, as ações preferenciais voltaram a subir. Nos últimos 12 meses, acumularam alta de 131%. A administração judicial não tem poupado esforços para mostrar que está conseguindo reerguer a Bombril. Como sinal disso, a empresa passou a entregar as demonstrações financeiras com mais rapidez e tem feito reuniões com analistas de investimento. A Bombril também contratou o ex-presidente da Bolsa de Mercadorias e Futuros Manoel Francisco Pires da Costa para ocupar a diretoria de relações com investidores, segundo a "Folha de S.Paulo". Na semana passada, anunciou a reabertura da fábrica de Sete Lagoas (MG), paralisada desde dezembro. (TM)