Título: Queda no aço derruba vendas locais
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2005, Empresas &, p. B8

Minério de ferro Retração de 5,7% até julho foi compensada pelos embarques ao exterior

O mercado nacional de minério de ferro e pelotas, por conta da desaceleração da produção de aço, teve queda de demanda no período de janeiro a julho. O volume negociado caiu 5,7%, afetado pela redução de 2,9% na produção brasileira de aço até julho No total das vendas, considerando as exportações, o setor mantém-se bem, puxado pelo consumo de clientes externos - no período o montante despachado somou 145,4 milhões de toneladas, um salto de 8,3% sobre o mesmo período de 2004. A Vale do Rio Doce mais coligadas e controladas respondeu por 97,1% do total vendido, segundo dados do Sinferbase, entidade do setor de metais básicos. As exportações cresceram 11,1% em volume e 64,6% em receita até julho. A MBR, controlada do grupo Caemi (Vale) , é o destaque do ano: as vendas totais subiram 17,6% e as exportações 25,6%. A receita de vendas ao exterior cresceu 90,6% no período comparado a 2004. A Vale e suas coligadas de pelotização responderam por 75%, ou 108,9 milhões de toneladas; a MBR por 28 milhões e a Samarco por 8,4 milhões. A Samarco tem 50% do controle em poder da Vale. Analistas de mineração e siderurgia nâo prevêem que desempenho excepcional do minério de ferro possa ser prejudicado pela desaceleração da siderurgia mundial (exceção China) e pela queda e estabilidade dos preços do aços nos próximos meses. O cenário para 2006, segundo Luiz Caetano, da Corretora Brascan, é de expansão da siderurgia chinesa e pequena redução nos volumes produzidos em todo o mundo. Ele vê ainda resultados crescentes das empresas de mineração, ao contrário do que se espera para a maioria das siderúrgicas. Para Caetano, a grande discussão para 2006 se concentra na evolução dos preços do minério de ferro. Pode ocorrer outro aumento, mesmo com os preços do aço em baixa ou estáveis. Com base em análise das empresas e apostando na na demanda chinesa aquecida, ele prevê estabilidade de preços, mesmo após os 71,5% em 2005. Para Roger Downey, novo analista de mineração do Credit Suisse First Boston (CSFB), considerando a posição de liderança da China nesse mercado, as usinas de aço do país deverão ter participação nas negociações de preços para 2006. "Os chineses estão preocupados em assinar contratos de longo prazo de minério de ferro; por isso, indicam que vão participar ativamente das negociações de preços ", observou. Downey diz que é muito cedo ainda para prever o novo aumento, pois a indústria ainda não iniciou pré-negociações para 2006. "Mas há uma expectativa grande. Imagina-se, porém, que qualquer reajuste não seria no mesmo nível de 2005". Segundo o analista, seus cenários apontam um mercado apertado para o minério de ferro até 2010, puxado pela China. Nos próximos cinco anos, segundo sua projeção, a produção siderúrgica chinesa pode atingir de 510 milhões a 520 milhões de toneladas, gerando importação de 480 milhões de toneladas de minério de ferro. Para ele, todo o esforço dos produtores de minério, principalmente a Vale, Rio Tinto e BHP Billiton, para acompanhar esta demanda é ainda pequeno. Outros competidores estão entrando no mercado, como a India, cujas exportações de ferro dobraram nos últimos cinco anos, para 80 milhões de toneladas em 2005. Há também novos projetos na Austrália, como o da Mount Gibson. "São empresas de três a quatro milhões de toneladas, mas que no conjunto somam". O analista ressalta que toda a cadeia de fornecimento da indústria de minério está com gargalos muito grandes. A Vale, a Rio Tinto e a BHP estão com dificuldades nas encomendas de equipamentos, tratores, locomotivas e vagões. "Não vemos tanta gente chegando no mercado a ponto de gerar uma superoferta."