Título: Negociação por empresa garante acordo salarial melhor em 2005
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2005, Brasil, p. A6

Ao contrário dos últimos anos, negociar reajuste salarial diretamente com a empresa, e não pelo conjunto da categoria, foi uma estratégia mais acertada no primeiro semestre deste ano. Eles resultaram em maiores percentuais de aumentos acima da inflação. Nos acordos coletivos, que representam as negociações entre trabalhadores e empresas, 73,8% deram ganho real aos salários, enquanto 13% ficaram abaixo da inflação. Nas convenções coletivas, que dizem respeito a acordos firmados por categorias, ou seja, com sindicatos patronais, 64% deram reajuste acima da inflação e 17% ficaram aquém. Em um total de 347 negociações, sejam acordos ou convenções, 65,7% deram ganho real, contra 45% do primeiro semestre de 2004. O economista José Dari Krein, do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) da Unicamp, afirma que esses números mostram que existe um movimento de descentralização dos negociações coletivas. Segundo ele, na medida em que ganha espaço a busca pela participação nos lucros e resultados (PLR) da empresa, e não só por aumento além da inflação, a negociação direta tende a crescer. Isso porque essa remuneração é diretamente vinculada ao desempenho da companhia. Em um cenário de crescimento econômico, tende a ser mais fácil negociar diretamente com as grandes empresas, comenta o economista. Os resultados podem até ser mais positivos para esses trabalhadores, mas levam a um padrão heterogêneo nos acordos. "A negociação direta é uma demanda que vem das empresas e não dos trabalhadores". Afinal, os empregados das pequenas e médias empresas e de ramos menos organizados preferem negociar por categoria, pois pegam carona com os mais fortes. Para José Silvestre de Oliveira, supervisor do escritório regional do Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Sócio-Econômicos (Dieese), responsável pelo levantamento, ainda não é possível dizer que haja uma tendência de que os acordos fechados diretamente com empresas sejam mais vantajosos. Ele afirma que o número desse tipo de acordos no total das negociações pesquisadas ficou em torno de 18%, percentual menor do que o observado nos anos anteriores, quando girava em 25%. "Como o painel analisado pelo Dieese é móvel, com variação na amostragem, o número de acordos e de convenções pode ser maior ou menor a cada semestre, o que impede análises sobre tendências." O consultor sindical João Guilherme Vargas Neto, chama atenção para o fato de que "quase 99% dos acordos salariais foram feitos sem campanha salarial, ou seja, sem grandes mobilizações e greve. Provavelmente houve a assembléia de reivindicação e uma de formalização da negociação. E só". Para ele, os resultados obtidos são maiores do que as mobilizações, o que deixa claro o papel fundamental do bom andamento da economia nas negociações.