Título: Furlan é contra corte drástico na tarifa de importação proposto pela Fazenda
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2005, Brasil, p. A2

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, criticou ontem a proposta de corte drástico das tarifas brasileiras de importação nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC). Sem fazer menção direta ao documento do Ministério da Fazenda, que sugere a redução de 35% para 10,5% das alíquotas máximas sobre produtos industrializados, Furlan deixou clara sua divergência com a sugestão, em conversa com o Valor. Maiores reduções nas tarifas, só se acompanhadas de melhoria das condições competitivas da indústria, com queda de juros e custos burocráticos, diz ele. O ministro dividiu o seu raciocínio em três partes. Primeiro, pontuou que há setores da indústria, principalmente aqueles ligados ao agronegócio, com condições de encarar imediatamente o aumento da concorrência com importados. Frisou que, mesmo assim, essa abertura deve estar condicionada ao que os países ricos oferecerão em termos de redução do protecionismo agrícola. "Não vamos dar nada de graça", afirmou. Em segundo lugar, ele ressaltou que não se pode abrir indiscriminadamente a economia sem antes criar um ambiente de igualdade de competição com os produtos importados. Esse é o ponto em que Furlan mais se deteve. "Sou a favor da abertura, mas com isonomia competitiva", argumentou. Por último, Furlan fez questão de dizer que não há decisão tomada. "O que estamos fazendo é um trabalho de discussão interna, que sequer deveria estar na mídia", afirmou o ministro. O Gecex, instância executiva do governo para assuntos de comércio exterior, debateu na terça-feira três propostas de abertura para as negociações de bens industriais na OMC. De acordo com o ministro, além do documento da Fazenda, estão em discussão uma proposta feita pela Coalizão Empresarial Brasileira e a chamada "fórmula ABI" (Argentina-Brasil-Índia), que sugere que os cortes de tarifas levem em conta a estrutura produtiva de cada país. Uma decisão só será tomada dentro de duas semanas, na próxima reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex). Ainda assim, será levada depois à apreciação dos sócios do Mercosul. A Camex é integrada pelos ministérios do Desenvolvimento, Casa Civil, Relações Exteriores, Fazenda, Planejamento e Agricultura. Em tom diplomático, Furlan afirmou que preferia avaliar a proposta de abertura como "presidente da Camex", e não como ministro. Se implementada, a proposta da equipe econômica levaria à abertura mais radical da economia brasileira nos últimos 15 anos.