Título: Governo petista não inibe paralisações de funcionários
Autor: Mônica Izaguirre
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2005, Brasil, p. A3

A ascensão ao poder de um partido que sempre compactuou com o corporativismo no funcionalismo público não inibiu movimentos grevistas na administração federal a partir de 2003. Tanto ou mais que os anteriores, o governo do PT também tem enfrentado muitas paralisações de servidores. O titular da Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, não dispõe de levantamento preciso sobre o número e extensão das greves ocorridas nos últimos três anos, mas lembra que muitas carreiras recorreram a paralisações para obter aumentos salariais. Além dos funcionários e médicos peritos do INSS, também fizeram greve servidores do Ministério da Cultura, os da carreira da Seguridade Social, que engloba os ministérios do Trabalho, Saúde e Previdência, professores e funcionários das universidades federais, fiscais agropecuários do Ministério da Agricultura, servidores do Incra, Banco Central e IBGE, agentes da Polícia Federal, entre outros. Os aumentos e vantagens salariais concedidos pelo governo petista ao funcionalismo desde 2003 não foram poucos. Houve reajustes diferenciados para diversas carreiras. Em 2003 e 2004, os servidores do INSS levaram aumentos entre 25,89% e 38,38%, os da Seguridade Social, entre 12,27% e 74,1%, professores universitários, entre 29,32% e 58,78% , técnicos de universidades e escolas federais, entre 34,37% e 62%, e servidores do "carreirão", comum a diversos ministérios, entre 4,05% e 57,27%. Também houve, entre outros, reajustes de até 96,8% no BC, e de até 122% para fiscais agropecuários. Só os aumentos negociados nos dois primeiros anos do atual governo criaram - ou vão criar - despesas adicionais de R$ 10 bilhões por ano para a União, após totalmente incorporados à folha de pessoal - R$ 98 bilhões este ano. O impacto no valor anual da folha vai crescer, pois novos aumentos ou gratificações já foram concedidos em 2005. O resultado das negociações com grevistas do INSS, por exemplo, representa despesa anual de R$ 140 milhões em gratificações. Aos militares, que não podem fazer greve, foi prometido reajuste parcelado, cujo impacto será de aproximadamente R$ 5 bilhões por ano depois de totalmente incorporado à folha. Embora entenda que algumas greves foram abusivas, Mendonça é defensor da concessão de reajustes periódicos aos servidores. "Se governo deixa o salário real se deteriorar muito, vai lidar com gente desmotivada, que não vai trabalhar direito", diz o secretário. (MI)