Título: Para economistas, IDH não reflete realidade do país
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2005, Brasil, p. A4

A desaceleração econômica provocada pela alta do dólar, da inflação e dos juros no período pré-eleitoral e no primeiro ano do governo Lula fizeram com que o país ficasse estagnado em termos de desenvolvimento social em 2003: naquele ano, o Brasil ficou em 63º lugar numa lista de 177 países pesquisados no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Organização das Nações Unidas. A posição do país no ranking da ONU é a mesma de 2002. Em termos numéricos, no entanto, o indicador brasileiro subiu de 0,790 no relatório passado, relativo a 2002, para 0,792 este ano, que considerou as informações de 2003. Em 2003, o IDH do Brasil continuou abaixo do índice médio de 0,797 da América Latina e Caribe. A média mundial é de 0,741. O relatório deste ano trouxe novidades, pois houve uma revisão metodológica no ranking divulgado em 2004. Com isso, o Brasil, que em 2002 estava em 72º lugar, foi para a 63º posição (o IDH de 2002 subiu de 0,775 para 0,790). Para economistas, os critérios utilizados para a aferição do IDH mascaram a realidade. O economista Márcio Pochmann, da Universidade de Campinas (Unicamp), diz que o IDH se mostra, cada vez mais, insuficiente e inadequado para medir o desenvolvimento humano de um país. Ele não mede, por exemplo, a violência e o desemprego. "O índice de exclusão social feita pela Unicamp em 2002, por exemplo, mostra o Brasil em 109ª posição entre 175 países observados. Uma realidade diferente da observada pelo PNUD", diz ele. O embaixador Rubens Ricupero, ex-secretário geral Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) concorda com Pochmann e lembra que, em 2003, a política econômica do governo teve impacto violento no nível de emprego e na renda média das famílias. E, lembra ele, em qualquer país do mundo o agravamento do desemprego gera certamente mais pobreza. "Nos últimos oito anos houve avanços significativos nas áreas de saúde e educação no Brasil. Mas, apesar disso, o país não melhorou em termos de pobreza e muito menos em distribuição de renda", pondera Ricupero. A manutenção do Brasil na 63ª posição no ranking da ONU não surpreendeu a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. De acordo com ela, os índices do Brasil estão em crescente melhoria. Mas faz uma ressalva: "não podemos nos contentar com isso". Segundo Dilma, é preciso combinar crescimento econômico com políticas de inclusão social. "O relatório da ONU mostra que, se considerarmos apenas o crescimento econômico, levaremos quase duas décadas para superar a desigualdade. Por isso urge que políticas sejam desenvolvidas para assegurar emprego e renda para a população", argumenta.