Título: Desfile tem metade do público de 2004
Autor: Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2005, Política, p. A5

Crise Palanque do presidente, sempre disputado pelos parlamentares, contou com apenas cinco deputados

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viveu ontem no desfile de Sete de Setembro em Brasília a tradução do seu desprestígio no Congresso. Apenas cinco deputados estiveram no palanque das autoridades, onde não havia nenhum senador. Os presidentes da Câmara e do Senado e líderes do governo também não compareceram ao evento. O público vaiou Lula em poucos momentos, o que foi abafado pelos aplausos das pessoas que estavam no gramado da Esplanada dos Ministérios e por militantes petistas. A Secretaria Geral da Presidência da República distribuiu 1,6 mil convites para movimentos sociais e funcionários do Palácio do Planalto para assistir ao desfile nas quatro arquibancadas próximas ao palanque oficial. "A medida foi uma exigência da equipe de segurança do presidente", alegou Wagner Caetano, da Secretaria Geral. Parte dos ingressos foi distribuída para um grupo de petistas que faz vigília há 20 dias em frente à residência oficial da Granja do Torto em defesa do mandato de Lula. Poucas faixas de protesto e de apoio foram levadas pela população até a Esplanada dos Ministérios, onde aconteceu o desfile. Muitas delas pediam o fim da corrupção, mas poupavam o presidente. Duas pequenas bandeiras pretas com a palavra "impeachment", foram exibidas em frente ao palanque, pelo arquiteto Antônio Esteca, que se disse eleitor de José Serra. Os protestos contra o presidente e as críticas mais duras a seu governo foram liderados por militantes do PSTU, esposas de militares e estudantes, que chegaram a vaiá-lo quando seu nome foi anunciado no início do desfile. Mais do que protestos, a marca da cerimônia foi a falta de empolgação do público que assistiu ao desfile. "O desencanto é um reflexo do clima político", apontou Paulo Delgado (PT/MG), um dos cinco deputados que compareceu à cerimônia. A baixa representação do Congresso contrastou com a presença de mais de 20 ministros, entre eles, Antonio Palocci, da Fazenda. O presidente do Senado, Renan Calheiros, assitiu ao desfile em Alagoas, seu estado natal. O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, ameaçado de perder o mandato por denúncias de corrupção, está em Nova York em um encontro nas Nações Unidas.. Coube ao assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, sair em defesa de Lula e responder às críticas da oposição. "Acho que entre eles há golpistas que participaram de outros golpes porque se dão mal na democracia", afirmou, sem querer dar nomes. Repetindo a tática do Palácio do Planalto de tentar se afastar do caso, Garcia defendeu o uso da cautela na apuração das denúncias contra o presidente da Câmara. "Não podemos viver num clima de que qualquer pessoa diz qualquer coisa sem provas e isso se torna verdade. O problema de Severino é de quem o elegeu. ", afirmou Sem a badalação do desfile de 2004, organizado pelo publicitário Duda Mendonça com atletas olímpicos medalhistas e representantes de movimentos sociais, o público de ontem foi de apenas 30 mil pessoas, a metade do ano passado. O desfile seguiu o molde tradicional: escolas, grupos culturais, representantes das Forças Armadas e a Esquadrilha da Fumaça. Como novidade, apenas estudantes nigerianos que marcaram a presença do presidente do país, Olusegun Obasanjo, convidado por Lula a assistir a cerimônia em Brasília.