Título: Na TV, Lula usa âncora econômica para defender governo
Autor: Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2005, Política, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em pronunciamento em cadeia de rádio e TV, que não permitirá que a crise política seja "manipulada por interesses menores e se alastre artificialmente, contaminando de modo abusivo a vida nacional". No discurso para comemorar o Sete de Setembro, ele fez mais uma vez a defesa da política econômica e defendeu a punição dos envolvidos na crise política. "Faço questão de tranqüilizar as pessoas de bem, e advertir aos mal intencionados, que as turbulências políticas não vão tirar o governo de seu rumo", disse. A estratégia é repetida pelo presidente desde o início da crise para tentar demonstrar que o Palácio do Planalto não vai proteger seus aliados envolvidos em denúncias. "Nem eu nem vocês admitiremos qualquer contemporização, nenhum acordo subalterno. Doa a quem doer, sejam amigos ou adversários", afirmou. Ele voltou a defender as apurações da CPIs do Congresso, da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça: "Da mesma forma que soubemos vencer o desafio da crise econômica e estamos vencendo o desafio da dívida social, saberemos superar com coragem e serenidade as atuais turbulências políticas". Com base nos resultados da economia, Lula prometeu também melhorar os índices sociais e as áreas de educação e infra-estrutura, uma de suas maiores prioridades. Num tom otimista, o presidente voltou a usar a âncora econômica para defender uma boa imagem de seu governo e fazer críticas ao governo anterior. "Todos sabem que, quando assumi a Presidência, o Brasil estava mergulhado em uma profunda crise econômica e social. O quadro era assustador: a economia estagnada, o desemprego crescendo, a inflação disparando e a crise social prestes a explodir". O pronunciamento do presidente era esperado pelos auxiliares como uma reafirmação da defesa do governo contra as críticas da oposição. O tom ameno foi escolhido em função do feriado da festa de Sete de Setembro, que, segundo os auxiliares, exigiria um discurso "neutro". O discurso de ontem foi o segundo pronunciamento do presidente em cadeia de rádio e TV a tratar da crise política. O primeiro foi em junho, depois da demissão do ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu. Na última reunião ministerial em agosto, Lula fez o que foi considerado seu pior momento público na crise: desconfortável, leu um discurso em que reconhecia a gravidade da crise em que colocava a culpa da crise em seus aliados e no PT.