Título: Protestos dividem 'Grito' e movimentos independentes
Autor: Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2005, Política, p. A6

A 11ª edição do Grito dos Excluídos, protesto que é organizado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), movimentos sociais e centrais sindicais, pediu mudanças na economia, o fim da corrupção e da crise política. O tom foi de protesto, mas não marcadamente contrário ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A linha das manifestações, em muitas cidades, foi a de que as mudanças "dependem mais do povo", o que contrastou com as manifestações mais radicalizadas contra o governo lideradas por entidades como o PSOL e PSTU. Em Curitiba um grupo de 20 jovens vestidos de preto e usando máscaras dos personagens da crise política pediram o fim da corrupção no país. "Chega de ladrão, abaixo a corrupção", gritavam. Um dos cartazes "Mensalão: Lula sabia". Um dos pontos do manifesto distribuído pelos movimentos sociais participantes é a defesa de uma reforma política "profunda e radical". A missa do trabalhador, na Basílica de Aparecida (SP), reuniu 40 mil pessoas, segundo cálculo da própria igreja. Em São Paulo, a missa foi na Sé. Depois, os manifestantes seguiram para o bairro do Ipiranga, local do grito da Independência. Quem protestava contra a violência em frente a Secretaria de Segurança, se juntou à caminhada. No Recife, mais de 10 mil pessoas protestaram com faixas e cartazes que reivindicavam emprego, saúde, educação e justiça. Lideranças de vários movimentos, entre elas trabalhadores sem-terra, sem-teto, associações de bairros e organizações não-governamentais, fizeram discursos, cobrando das autoridades governamentais transformações sociais e ética na política. O ex-ministro da saúde Humberto Costa participou da manifestação e disse que apesar dos avanços obtidos, o país ainda precisa implementar projetos para resgatar a dívida social. Em Fortaleza, o "Grito" pediu emprego, moradia e o fim da violência e da corrupção. Não houve críticas diretas a Lula. Um grupo defendia o desarmamento. A manifestação contou com a participação do arcebispo de Fortaleza, D. José Antônio Aparecido Tosi. "Isso é para que a opinião pública se sinta cada vez mais com espaço para se expressar e para assumir a sua responsabilidade na construção da Nação", afirmou. Em Vitória (ES), o "Grito dos Excluídos", que pretendia chamar a atenção sobre a violência no Estado atraiu duas mil pessoas. O Movimento Estudantil Democrático defendeu o passe livre nos ônibus. Em Belo Horizonte, a Polícia Militar estima que 1,8 mil foram ao "Grito". Os manifestantes protestaram contra a miséria e a violência mas, ao contrário dos últimos anos, não quiseram realizar a tradicional caminhada pelas ruas de BH. "Vamos tentar mostrar que não só depende de nós a solução dos problemas que afetam o País. Além disso, a gente quer apontar desafios e algumas soluções já encontradas", disse o vigário episcopal José Januário Moreira. Em Salvador, enquanto o trio elétrico da Arquidiocese, os animadores das esquerdas aliadas ao governo, pediam "Xô à corrupção", mas defendiam Lula com o coro "Xô impeachment", no final do cortejo, os militantes do PSTU, PSOL, PDT e PPS vaiavam Lula e pediam sua saída. Em Porto Alegre, a Brigada Militar estimou 1.200 manifestantes. O ex-ministro das Cidades, Olívio Dutra, que participou da marcha, disse que a saída do Lula não é a saída para a crise: "Além de punir, prender e expulsar os envolvidos nos atos de corrupção é preciso mudar políticas". Em Brasília, o 'Grito' contou com a participação de cerca de 500 militantes. Evitando o 'fora Lula', a principal bandeira foi a crítica à política econômica e à missão brasileira no Haiti.(Colaboraram Jaqueline Paiva e agências noticiosas)