Título: MST recrudesce pressão sobre governo com o 'setembro vermelho'
Autor: Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2005, Política, p. A6

A prisão do principal líder do Movimento dos Sem-Terra (MST) no Pontal do Paranapanema, José Rainha Jr., é a primeira reação oficial ao chamado "setembro vermelho", anunciado pela entidade. A prisão foi alvo de protestos do "Grito dos Excluídos" em Mirante do Paranapanema, onde Rainha foi detido. Mesmo com o aumento de R$ 1,5 bilhão para R$ 3,5 bilhões no orçamento da reforma agrária entre 2003 a 2005, o presidente do Incra, Ralf Hackbart, considera que não há como evitar o acirramento das invasões em setembro. Para ele, quanto maior o número de famílias assentadas maior será a demanda por terra. O governo promete manter o diálogo com os movimentos sociais de reforma agrária, embora seja um protesto novo no calendário das relações com estes setores que sempre fizeram de abril seu mês de manifestações. O novo diretor da Abin (Agência Brasileira de Informação), Márcio Paulo Buzanelli, disse ao Valor, que o governo vai acompanhar as manifestações sem interferência. "Não faremos espionagem junto aos movimentos sociais", afirmou. Hackbart tem-se reunido com os movimentos de sem-terra para prestar conta do calendário de assentamento. Ele assegura que o governo pela primeira vez vai cumprir a meta prometida para o ano. "Em 2005, vamos atingir as 115 mil famílias que estavam no cronograma", afirmou. Mesmo que até agora, o governo tenha conseguido assentar apenas 40 mil famílias e adquirido terras para a colocação de outras 35 mil. O Incra já gastou todo o orçamento que havia sido liberado até julho para desapropriação e compra de terras. Para atingir a meta, o Incra conta agora com R$ 700 milhões prometidos em junho, mas liberados apenas em agosto. Parte destes recursos também será usada para levar infra-estrutura aos assentamentos. Com o "setembro vermelho", como é chamada a onda de protestos e invasões prometidas para este mês, o coordenador do MST, João Pedro Stédile, coloca fim à trégua dada ao presidente Lula e faz agora críticas ácidas a seu governo. "O MST não precisa programar ocupações. Elas acontecem como consequência da inoperância do governo. A atual administração do Incra repete o governo Fernando Henrique Cardoso: cria projetos na Amazônia legal, onde é mais fácil apresentar metas de assentamento", afirmou. Para o MST, foram assentadas apenas 4 mil famílias oriundas de seus quadros, um décimo das 40 mil citadas pelo governo. "Nós precisamos atender famílias de todos os movimentos, que chegam a 74 em todo o Brasil. Além disso, o MST concentra-se no centro do país onde é grande a dificuldade de terras", diz Hackbart. Apesar de divergências com os movimentos, Hackbart faz coro com eles na luta pela atualização da lei das desapropriações. Junto com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, pressionam o governo para elevar os limites de produtividade exigidos para a desapropriação, discussão que tem sido barrada pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. "Teríamos mais terra para a desapropriação no sul e sudeste, onde na maioria dos casos só se consegue fazer a reforma agrária com a compra de terras", afirmou. (Com agências noticiosas).