Título: Cassações devem enfraquecer governo
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2005, Política, p. A7

O pedido de cassação de 18 deputados federais acusados de envolvimento com o suposto esquema do mensalão, feito pelas CPIs Mistas, se for atendido, enfraquecerá a base de apoio do governo no Congresso. Levantamento feito pelo deputado Júlio Redecker (PSDB-RS), ao qual o Valor teve acesso com exclusividade, demonstra uma fidelidade sem precedentes ao governo Lula desse grupo de parlamentares, já apelidados pelos seus colegas de "a bancada do mensalão". Parlamentares de oposição consideram o estudo como mais um indício da existência da mesada a políticos em troca de apoio ao governo. O estudo feito por Redecker analisa o comportamento dos 18 deputados em 108 votações nominais mais importantes realizadas na Câmara dos Deputados durante a administração de Luiz Inácio Lula da Silva até o dia 17 de agosto de 2005. A "bancada" atingiu o índice de 90,2% de fidelidade à orientação do governo nas votações. O número é superior ao atingido pelas bancadas de PT (89,9%) e PL (90%), partidos do presidente e do vice-presidente, José Alencar. E é muito mais expressivo do que os alcançados pelas bancadas do PMDB (81%), PTB (84%) e PP (82%). O levantamento leva em conta a presença do deputado Roberto Brant (PFL-MG), único integrante do grupo a fazer parte de um partido da oposição. O parlamentar tem o menor índice de fidelidade ao Planalto, com 34,2%. Se o nome do pefelista for retirado da conta, o índice de fidelidade da "bancada do mensalão" é elevado para 93,5% e a distância na comparação aos outros partidos da base cresce. "É um índice espetacular de fidelidade. É mais um indício muito forte de que a compra de apoio parlamentar aconteceu", comenta o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS), integrante da CPI dos Correios. "Quanto mais nós avançamos nas investigações, mais fica claro que o Partido dos Trabalhadores montou um suporte pouco ortodoxo de apoio no Congresso. Sem dúvida, o estudo é um agravante contra esses parlamentares", acrescenta o pefelista. O senador Demóstenes Torres (PFL-GO), outro integrante da CPI dos Correios, concorda com Lorenzoni. "É um indício fortíssimo. Essa bancada do mensalão de fato correspondia às expectativas do governo nas votações", diz o vice-líder pefelista no Senado. Ele lamenta o comportamento dos parlamentares. "Os deputados perderam sua identidade e se entregaram às determinações do governo sem convicção ideológica." Júlio Redecker é mais comedido ao analisar os números. "Se não é um indício de culpabilidade, mostra que parte dos apoios eram ideológicos e outros eram pagos. A crise já começa a fazer desmoronar a pretensa maioria do governo no Congresso Nacional", diz o deputado. O parlamentar afirma que o Palácio do Planalto perderá uma "tropa de fiéis" muito importante nas votações na Câmara. O deputado José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP) afirma que o levantamento não pode ser realizado nos termos apresentados por Redecker. "Essa comparação exigiria um levantamento de todos os 513 deputados. É preciso saber se o índice desses deputados é maior do que os demais das bancadas. Eu, por exemplo, devo ter uma porcentagem de fidelidade ao governo semelhante ao deles, mas nem por isso sou acusado de receber mensalão", diz o petista. Na média das bancadas, no entanto, os 18 parlamentares vencem todos os cinco partidos da base aliada colocados na comparação por Redecker. Dos 18 parlamentares, dois têm seus índices contabilizados fora do padrão das 108 votações mais importantes estabelecido no levantamento. José Dirceu, desligado da chefia da Casa Civil desde o dia 16 de junho, só teve a oportunidade de participar de oito votações importante. Esteve presente em sete. Em todas votou com o governo. Já João Paulo Cunha ficou de fora das votações na maior parte do governo por ser presidente da Câmara. Depois de deixar o cargo, 31 temas importantes foram colocados em pauta. Só participou de 18, das quais votou a favor do governo em 15.