Título: PDT derrota candidato de Garotinho em Campos
Autor: Janaina Vilella e Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2004, Política, p. A-6
As derrotas de ontem em Campos, Niterói e Nova Iguaçu enfraquecem o projeto político do presidente regional do PMDB, Anthony Garotinho, de se lançar candidato à Presidência da República em 2006. No balanço dos dois turnos das eleições municipais, o PMDB perdeu em cinco dos nove municípios do Estado do Rio com mais de 200 mil habitantes Já o PT fluminense, pouco representativo na capital, conseguiu ontem duas vitórias importantes. Uma em Niterói, onde Godofredo Pinto venceu com 65,9% dos votos válidos João Sampaio (PDT), que ficou com 34,91%. A outra em Nova Iguaçu, onde Lindberg Farias foi eleito com 57,74% dos votos, derrotando o candidato de Garotinho, Mario Marques (PMDB), que encerrou o pleito com 42,26%. Mas no vai-e-vem de denúncias, a própria validade do pleito em Campos estava ontem em cheque. O presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Marcos Faver, informou que a quantidade de denúncias envolvendo os dois candidatos - tanto Geraldo Pudim (PMDB) quanto Carlos Alberto Campista (PDT) -, poderão levar o tribunal a marcar nova eleição. Sem afirmar que a atual será impugnada, Faver disse que o Ministério Público Estadual deverá oferecer denúncia contra os candidatos e, caso elas sejam acatadas pela juíza Denise Apolinária, então o TRE terá que marcar nova eleição. Perder em Campos deixa um sabor amargo para o ex-governador Garotinho. Pudim perdeu com 45,42% dos votos, contra 54,58% de Campista. Foi a primeira vez, em 24 anos de carreira política, que Garotinho não elegeu seu candidato na cidade. Berço político do ex-governador do Rio e atualmente secretário licenciado de Segurança Pública, e de sua mulher, a governadora Rosinha Matheus, Campos recebeu atenção especial do casal durante a campanha. Foram intensificados os programas sociais do governo do Estado, o que causou polêmica, inclusive com ações de fiscais do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) flagrando distribuição de cestas básicas, Cheques Cidadãos e kits escolares. No sábado, foram apreendidos pela Justiça Eleitoral R$ 318,2 mil na sede do diretório do PMDB em Campos. A acusação era de que eram recursos para compra de votos, o que Garotinho negou. Segundo ele, os recursos eram para o pagamento de cabos eleitorais. Ontem, ao votar em Campos, Garotinho não quis falar com os jornalistas. E, ao ser questionado por um repórter se daria entrevistas, disparou: "Vocês são uns canalhas". O município, que conta com um orçamento superior a R$ 1,5 bilhão, é o que mais arrecada royalties de petróleo no Brasil. Foram R$ 177 milhões de janeiro a julho deste ano. "A eleição em Campos ficará para a história. Foi totalmente atípica. Garotinho sempre ganhava as disputas com folga. Mas como o prefeito Arnaldo Vianna (PDT) rompeu com o ex-governador, as forças políticas da cidade se dividiram", disse Denise Terra, cientista política da Universidade Cândido Mendes (Ucam), de Campos. Em São João de Meriti, o candidato do PMDB, Uzias Mocotó, foi eleito com 56,04% dos votos, enquanto Sandro Matos (PTB) ficou com 43,96%. Em Duque de Caxias, o candidato do PMDB, Washington Reis, venceu com 51,91%, contra 48,09% de Vencia Laury Villar (PDT). Reis é liderança forte da reunião independente de Garotinho que chegou este ano ao PMDB. Em 2000, o PMDB elegeu 14 prefeitos no Rio de Janeiro, e em 2004 o número aumentou para 43 - mas, entre as cidades com mais de 200 mil habitantes, são nove as mais expressivas. O PT, por sua vez, foi o partido que mais cresceu. Enquanto em 2000 o partido elegeu apenas um prefeito, neste ano obteve oito cidades. Já o PSDB, principal adversário petista no plano nacional - e que na última eleição municipal ficou em terceiro lugar na soma do Estado, com 10 prefeituras -, amargou a sexta colocação este ano, vencendo em três municípios.