Título: Bancada federal do PTB rejeita filiação de Paulo Maluf à legenda
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2005, Política, p. A6

Em tempos de crise de imagem dos políticos, o ex-prefeito Paulo Maluf (PP) deverá ser rejeitado pelo PTB. É grande a reação de lideranças nacionais do partido e da bancada federal às negociações conduzidas pelo diretório regional do PTB para que Maluf ingresse na legenda. A bancada federal reúne-se em Brasília na próxima semana, provavelmente na terça-feira, e vai elaborar um documento desaconselhando o Diretório Nacional a avalizar a filiação. O presidente do PTB, Flávio Martinez, estará presente na reunião, segundo confirmação de parlamentares ao Valor. Uma ala do partido cogitou, inclusive, explicitar um veto à filiação de Maluf. Essa proposta, no entanto, não deverá vingar porque há dirigentes do PTB favoráveis à filiação, como o presidente do diretório regional Nabi Abi Chedid e o deputado estadual Campos Machado, secretário regional. Na bancada federal composta por oito membros, somente Arnaldo Faria de Sá (SP) e Nelson Marquezelli (SP) são favoráveis à filiação de Paulo Maluf. "A reação nacional é até maior que em São Paulo. Os diretórios de Espírito Santo, Goiás e Mato Grosso já manifestaram-se contra", garante um dirigente do partido. Apesar da reação, os parlamentares preferem o anonimato para analisar o caso, enquanto não há decisão formal do PTB. A situação complicou-se ainda mais depois do pedido de prisão preventiva de Maluf e da confirmação, pela Polícia Federal, que o ex-prefeito e o filho dele, Flávio Maluf, tentaram impedir o depoimento do doleiro Vivaldo Alves. Ele confirmou à polícia que transferiu US$ 5 milhões para a conta do publicitário Duda Mendonça em Nova York para quitar dívidas de campanhas eleitorais. O publicitário trabalhou na campanha de Maluf em 1998. Diante dos novos fatos, parlamentares do PTB apostam inclusive na possibilidade de o próprio Maluf desistir da filiação. "Ele já tem partido e pode se candidatar em 2006", observa um petebista. Maluf deve tentar eleger-se deputado federal. A avaliação majoritária da bancada nacional é que houve uma certa precipitação do diretório regional nas negociações com Maluf. "Avançaram sem consultar explicitamente a direção nacional", diz um integrante do diretório nacional. Pesam contra Paulo Maluf, além da investigação avançada da Polícia Federal, o cenário de crise política. Foi o deputado federal Roberto Jefferson, ex-presidente nacional do PTB, que denunciou a existência de um suposto esquema de corrupção envolvendo dirigentes do PT para pagar parlamentares do PP e PL. "Foi o PTB que denunciou o esquema do mensalão. O partido já sofreu um prejuízo enorme de imagem. É praticamente impossível que prospere a filiação de Maluf", analisa um parlamentar da legenda. O presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, Ricardo Izar (PTB-SP), é um dos que resiste à filiação de Maluf. Os dois já foram aliados no passado. Izar ocupou a Secretaria de Habitação no governo Maluf. Ambos, no entanto, desentenderam-se na disputa pela prefeitura em 2000. Izar tinha a pretensão de disputar a eleição e foi barrado por Maluf. Depois disso, o parlamentar deixou o PP, ingressou no PMDB e em seguida filiou-se ao PTB. O PTB paulista tem dois argumentos para justificar a filiação de Maluf: essa seria uma decisão que caberia exclusivamente à seção paulista e a cláusula de barreira - já nas eleições de 2002 o partido não cumpriu a exigência de ter 5% dos votos nacionais, em pelo menos sete Estados, o que será obrigatório a partir de 2006. Para atingir esse percentual, o PTB teve de incorporar o PST. Maluf poderia "puxar" votos para o partido em São Paulo e até mesmo em outros Estados. A mudança também seria benéfica para o ex-prefeito, que teve problemas com os deputados Vadão Gomes e Celso Russomano em sua última campanha para prefeito de São Paulo e vê cada vez mais reduzida sua margem de manobra no PP regional e nacional. (MLD, colaborou Raymundo Costa)