Título: Captações externas vão passar de US$ 2,7 bi
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2005, Finanças, p. C1

Emissões Setembro favorável para empresas, bancos e governo federal

O mercado acaba de decretar o fim da crise política e emissores brasileiros resolveram aproveitar o otimismo e preparar o lançamento de bônus no exterior, que vão alongar o prazo de vencimento de suas dívidas e reduzir custos. O total de captações neste mês (realizadas e previstas) deve passar dos US$ 2,7 bilhões, segundo apurou o Valor. "No curto prazo, o cenário é bem favorável", diz Ricardo Amorim, economista-chefe para a América Latina do WestLB. Segundo agentes do mercado, a Eletrobrás vai lançar papéis com vencimento em sete a dez anos no total de US$ 300 milhões, sob a liderança do Dresdner Bank. Também o Banco Votorantim está preparando captação por meio de bônus com vencimento em sete a dez anos, de valor não inferior a US$ 100 milhões. Essas operações, somadas aos bônus perpétuos da Gerdau (US$ 300 milhões), da Construtora Norberto Odebrecht (US$ 150 milhões), do Santander Banespa (US$ 300 milhões) e aos títulos de prazo ainda não definido da Cesp (US$ 120 milhões) já totalizam quase US$ 1,3 bilhão. Há ainda uma operação da Telemar, que estaria também estudando a emissão de bônus perpétuos, e dois empréstimos "stand-by", de US$ 200 milhões cada, do Banco Votorantim e do Unibanco. O "stand-by" funciona como uma espécie de cheque especial: o tomador paga uma comissão para ficar com os recursos disponíveis por um determinado período de tempo com juros predeterminados, e só saca se e quando quiser. A captação fechada na terça-feira pelo Tesouro Nacional é apenas uma amostra do que está por vir. A demanda passou dos US$ 3 bilhões, com relação à oferta inicial de US$ 750 milhões. No fim, o Tesouro acabou tomando US$ 1 bilhão na reabertura de seu bônus que vence em fevereiro de 2025. Mas ainda há US$ 2 bilhões em recursos de investidores externos dispostos a aplicar em renda fixa no Brasil. O prazo da operação do Tesouro (20 anos) mostra que a demanda é por papéis de longo prazo. Na comparação com o lançamento original do título com vencimento em 2025, feito em fevereiro, o prêmio pago sobre os títulos do Tesouro americano caiu de 431 pontos básicos para 417 pontos e o rendimento ao investidor caiu de 8,90% ao ano para 8,52%. Como o Tesouro havia concluído seu cronograma de captações neste ano, esse US$ 1 bilhão já é uma antecipação para 2006. Os recursos entram nas reservas internacionais, o caixa em moeda forte do país, no dia 13 de setembro e podem ser usados, total ou parcialmente, para a recompra antecipada do US$ 1,2 bilhão em C-Bonds nas mãos do mercado, em 17 de outubro próximo. "O mercado já absorveu o impacto da crise política e os fundamentos econômicos do país estão cada vez mais positivos", comenta Robson Galiano, da mesa de mercados emergentes da Bear Stearns, um dos líderes da operação do Tesouro. Segundo ele, os investidores estão especialmente otimistas com o superávit fiscal primário (sem contar os juros) elevado, acima da meta, e com o desempenho da balança comercial, apesar da valorização do real. A inflação sob controle e a perspectiva de corte nos juros básicos (taxa Selic) estimula mais a compra de papéis brasileiros. Por determinação do Tesouro, nenhum investidor ficou com mais do que 4% do total de US$ 1 bilhão lançado. "Conseguimos pulverizar a venda de títulos, como queria o Tesouro, mas os lotes pedidos pelos investidores foram grandes", conta Galiano. Ele diz que o interesse pela compra de papéis do Brasil veio das seguradoras, de investidores pessoa-física dos fundos de private banking, dos gestores de recursos e dos fundos de hedge (investidores menos avessos a risco). Os temores de desaceleração forte da economia americana neste momento, por causa do Furacão Katrina, que poderia afetar o Brasil, estão se reduzindo. "O impacto mais relevante do furação é sobre os preços, inclusive do petróleo, pois a capacidade de refino dos EUA foi reduzida", acredita Amorim. Ele lembra que os Estados americanos do Golfo do México (Flórida, Alabama, Mississipi, Louisiana e Texas) representam 3,5% do Produto Interno Bruto dos Estados Unidos. Para Amorim, apesar da pequena retração inicial, o grande esforço para reconstruir New Orleans e outras regiões afetadas pode ter até um efeito expansionista sobre a economia. Por isso, ele aposta que o Fed, banco central americano, vai manter sua política de elevação dos juros básicos americanos em 20 de setembro. "Eu não estou certo se haverá ou não uma outra elevação após essa primeira", afirma. "O risco de desaceleração existe, mas não é para já e nem por causa do Katrina", diz. Amorim não está sozinho. Uma pesquisa da Dow Jones Newswires/CNBC mostra que a maioria dos analistas ainda aposta em uma alta nos juros básicos americanos de 0,25 ponto percentual na reunião do Fed do dia 20. Para Walter Molano, economista da BCP Securities, os preços do petróleo, metais e de algumas commodities vão subir como resultado da redução da oferta nos Estados americanos atingidos pelo Katrina. Isso é boa notícia para os mercados emergentes, acredita Molano.