Título: Metalúrgicos do ABC defendem presidente
Autor: Caio Junqueira
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2005, Política, p. A4

No berço político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dois mil sindicalistas fizeram ontem um ato a favor do governo do presidente e do governo federal. Reunidos na praça símbolo da resistência dos operários do ABC paulista e palco dos discursos inflamados de Lula quando líder sindical, os militantes pediram apuração das denúncias e culparam as "elites, a direita e a mídia" pela crise. O ato foi uma resposta antecipada à manifestação de hoje contra o governo, que reunirá entidades como Força Sindical e OAB, em São Paulo. "Não baixem a cabeça", conclamou no calor do discurso o presidente do PT, Tarso Genro. Reconhecendo os erros cometidos por petistas, Tarso mostrou-se indignado: "Nosso partido não tem vergonha de dizer que errou. Mas se quisessem investigar corretamente o caixa dois, não teriam começado pelo PT, teriam começado muito antes". Entre as manifestações de apoio a Lula, deputados petistas defenderam o governo e negaram as acusações de corrupção. O líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) comentou a denúncia de "mensalinho" envolvendo o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP), e disse que não há respaldo regimental para afastá-lo. Mais radical, o ministro do Trabalho e ex-presidente da CUT, Luiz Marinho, defende prisão para os acusados, caso a punição valha a todos. Companheiros de Lula na metalurgia, centenas de operários como Armando Fagundes Silva defenderam a figura do presidente. Baiano de Campo Formoso, Fagundes trabalhou 30 dos seus 55 anos como operário e disse que conheceu Lula, o "taturana", logo que entrou na Villares. "Ele sempre foi muito corajoso e vejo que está enfrentando a crise com a mesma serenidade com que enfrentava os patrões, a perseguição e a prisão", disse. "Mas ele está decepcionado com ter confiado demais em alguns companheiros do PT e é vítima de um sistema". À exemplo de outros militantes, disse que votará em Lula. A esperança de mudança, para eles, não morreu com as suspeitas sob o presidente.