Título: PF pede prisão de Maluf e faz busca e apreensão em casas de publicitário
Autor: Juliano Basile
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2005, Política, p. A5

A Polícia Federal pediu ontem à Justiça a prisão do ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf e de seu filho, Flávio Maluf, como conclusão de um inquérito que dura três anos e investiga lavagem de dinheiro, evasão de divisas, sonegação fiscal, corrupção, peculato e formação de quadrilha. O pedido de prisão, segundo reportagem do "Jornal Nacional" foi precipitado pela revelação da PF de que Maluf e seu filho tentaram impedir que o doleiro Vivaldo Alves contasse à polícia que operava contas de Maluf no exterior e que teria movimentado US$ 250 milhões oriundos de corrupção. As informações foram obtidas pela polícia por meio de interceptação telefônica. O doleiro, que negociou redução de pena com a PF, disse em depoimento à polícia que, a pedido de Flávio Maluf, transferiu US$ 5 milhões para o publicitário Duda Mendonça em uma conta no Citibank de Nova York. Duda, que fez a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, também ajudou a eleger Maluf prefeito de São Paulo. No relatório, a polícia afirma que Maluf, Flávio e Pitta "pilharam" os cofres públicos da Prefeitura de São Paulo por mais de uma década em uma ação "sem precedentes". A assessoria de imprensa do ex-prefeito disse que o pedido de prisão é uma "cortina de fumaça" para esconder "maracutaias de Brasília" e que Alves tentou extorquir Maluf. O advogado de Pitta disse que ele não participou da suposta tentativa de intimidação de testemunha. Duda Mendonça disse, por meio de seu advogado, que só vai se manifestar diante das autoridades. A Polícia Federal invadiu ontem seis endereços ligados ao publicitário Duda Mendonça, em São Paulo e Salvador. Foram apreendidos, disquetes, documentos bancários, computadores, livros contábeis e agendas do publicitário em suas casas e escritórios. O mandado foi expedido pelo Supremo Tribunal Federal e integra o inquérito que investiga o mensalão. O material seguiu para Brasília. A PF também abriu ontem inquérito para investigar o suposto pagamento de propina para o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). O pedido de abertura de inquérito foi feito pelo próprio Severino. Para demonstrar que está respondendo imediatamente à denúncia de que teria recebido o "mensalinho", o presidente da Câmara requereu ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que a PF investigue a empresa Buani & Paulucci. Severino é acusado de receber propina para renovar a licença de um restaurante na Câmara administrado por essa empresa. De acordo com a denúncia, publicada pela revista "Veja" no fim de semana, ele teria recebido R$ 10 mil por mês da Buani & Paulucci para favorecê-la no contrato com a Câmara. Severino alega ter sido vítima de extorsão. O delegado Sérgio Menezes, designado pela PF para presidir o inquérito, informou que Severino será o primeiro a ser ouvido. Mas, a data do depoimento ainda não foi marcada. Menezes explicou que o inquérito deve tramitar na Justiça Comum num primeiro momento. Como Severino é parlamentar, tem direito a foro privilegiado. Ou seja, ele só pode ser processado junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). Mas, por enquanto, ele figura como denunciante no inquérito, disse o delegado. Ao responder imediatamente à denúncia de "mensalinho", acusando a empresa de extorsão, Severino inverteu o que seria uma investigação contra si. Transformou o caso, pelo menos num primeiro momento, numa acusação contra a empresa que administra um restaurante na Câmara. O delegado informou que o dono da Buani & Paulucci, Sebastião Augusto Buani, também será chamado para depor. Ontem, a PF passou a tarde e o início da noite ouvindo novo depoimento do publicitário Marcos Valério de Souza, acusado de ser o operador do mensalão. O objetivo da PF foi rebater alegações dadas por outras pessoas nas investigações. Serão realizados 16 novos depoimentos em Belo Horizonte, apenas nesta semana, sobre o mensalão. Até o fechamento desta edição, o depoimento não havia terminado ainda. (Com agências noticiosas)