Título: Incerteza política ajuda a explicar retração no mês, segundo analistas
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 09/09/2005, Brasil, p. A3
As incertezas provocadas pela crise política ajudam a explicar a queda da produção industrial em julho, segundo analistas. Depois do forte crescimento em maio e junho, havia expectativa de alguma retração, que foi acentuada pelo clima de indefinição causado pelos escândalos políticos, então no auge. Tudo indica que houve "atraso preventivo em encomendas industriais e do varejo", como afirma o economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero. No entanto, como os temores quanto ao impacto da crise sobre a economia diminuíram bastante ao longo de agosto, a estimativa dos analistas é que tenha havido recuperação no mês passado. Essa expectativa é reforçada pelo comportamento de indicadores como a produção de veículos e o consumo de energia elétrica. Montero lembra que setores que caíram com força em julho, como bens de capital (-7,6%) e bens duráveis (-5,9%), haviam avançado com força nos dois meses anteriores. "Esses números podem estar muito relacionados ao movimento de estoques, reflexo da incerteza causada pela crise política, após dois meses fortes de produção", afirma ele, lembrando que julho foi "um mês de sustos". "Nós sabemos que o varejo e a indústria seguram encomendas de forma preventiva". O economista Sérgio Vale, da MB Associados, também avalia que a queda pode ser reflexo do cenário de instabilidade política, "considerando que a retração foi generalizada". Mas, como Montero, Vale não acredita que a queda de 2,5% de julho reflita uma reversão da tendência de crescimento. Ele lembra que a percepção quanto ao impacto da crise mudou bastante nas últimas semanas, e a avaliação dominante é que o desfecho não afetará a economia. Uma outra possível explicação para o recuo da indústria em julho é que as empresas estejam trocando o produto nacional pelo estrangeiro, dada a forte valorização do câmbio. Para o economista Júlio Callegari, do banco JP Morgan, a hipótese não pode ser descartada, mas não há números suficientes para confirmá-la. Para Montero, seria necessário uma série mais longa, algo como seis meses, de quedas na produção acompanhada por aumento de importações. A importação de fato tem crescido com força - a média móvel trimestral do volume de compras externas de bens de capital subiu 2,38% em julho -, mas o recuo na produção em julho foi o primeiro registrado após quatro altas seguidas. Para agosto, os analistas trabalham com a idéia de que a indústria vai se recuperar. Callegari avalia que uma alta de 0,5% a 1% é bastante factível, considerando o comportamento de alguns indicadores antecedentes, como produção de veículos, consumo de energia e produção de petróleo e gás. O presidente da distribuidora de aços planos Rio Negro, Carlos Loureiro, diz que agosto foi melhor que julho, com vendas crescendo em torno de 10%, para cerca de 212 mil toneladas. Para ele, o movimento reflete em boa parte a volta dos estoques aos níveis normais. "Não faz sentido olhar para julho se agosto já mostra recuperação", disse o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, ao ser questionado sobre a queda da produção industrial de julho. Segundo o ministro, o dado de julho "é um olhar sob o passado", e os indicadores já mostram recuperação da atividade em agosto. (Colaborou Raquel Landim)