Título: Produção de bens de capital recua em julho
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 09/09/2005, Brasil, p. A3

Conjuntura Queda foi de 7,6% sobre junho e de 4,4% em relação a igual mês de 2004; importações subiram 23%

A surpreendente retração de 2,5% na produção industrial em julho em relação a junho, já descontados os efeitos sazonais, afetou principalmente os segmentos da indústria representativos do investimento. A produção física de bens de capital caiu 7,6% ante junho, a maior queda entre as categorias de uso. Na comparação com o ano passado, a taxa foi negativa em 4,4%, enquanto a construção civil caiu 3,7%. No período, o volume das importações de bens de capital cresceu 23,3% e o das exportações, 10,6%. Na análise de Mérida Herasme Medina, responsável pelos cálculos de formação bruta de capital fixo (FBCF) no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os dados de julho não são suficientes para alterar a projeção do Ipea para o investimento fixo este ano, de alta de 5,3%, ante 10,9% em 2004. O Ipea trabalha com uma estimativa de expansão de 7,2% para o investimento no terceiro trimestre ante o mesmo período do ano passado, acima da sua estimativa para a taxa de crescimento do PIB trimestral no mesmo período, de 3,3%. O economista Fernando Montero, da consultoria Convenção, prefere não trabalhar com projeção anual para a formação bruta de capital fixo, por considerar esta variável muito volátil. Mesmo no curto prazo, contudo, ele é menos otimista que o Ipea. Nos seus cálculos, o investimento fixo teve uma queda em julho de 3,5% , apesar de ter se mantido positiva em 0,8% na média móvel trimestral. Montero se baseou, para fazer esta conta, no desempenho negativo da produção de máquinas e equipamentos e da construção civil em julho, mais a alta da importação (23,3%) e menos a exportação de bens de capital (10,6%) no mesmo mês, ajustando os números por sazonalidade. O desempenho geral da indústria em julho ficou bem abaixo do projetado por analistas e também pelo Ipea, que previam uma queda entre 0,5% e 1,0%. Em relação a julho do ano passado, a produção cresceu apenas 0,5%, percentual bem inferior a alta de 4,3% acumulada no ano. Sílvio Sales, do IBGE, responsável pela Pesquisa Industrial Mensal (PIM), disse que as categorias de uso com bases mais elevadas, como bens de capital e duráveis foram as que tiveram quedas mais fortes no mês pesquisado. A queda de 7,6% nos bens de capital, depois de dois meses consecutivos acumulando crescimento de 9,6%, rebaixou a produção de julho ao patamar de abril. Em bens de consumo duráveis, o recuo foi de 5,9%, após uma alta de 13,5% no acumulado de maio e junho. Para bens intermediários, a queda foi de 1,9%, a primeira após quatro resultados positivos. "O que observamos é que houve uma retração generalizada por dentro dos subsetores de máquinas e equipamentos, à exceção dos bens para construção, que cresceram 24,5% ante julho de 2004, e para energia elétrica, com alta de 21,9%. Mas, estes segmentos pesam pouco", destacou Sales. Os segmentos mais pesados, como máquinas para fins industriais, encolheram 12,1% na mesma base de comparação, enquanto as máquinas agrícolas despencaram 41,6%. Amaryllis Romano, da consultoria Tendências, disse que o indicador de produção de insumos da construção civil lhe chamou atenção, pois veio muito fraco em julho, cerca de 8% abaixo da estimativa para o mês. "Nos meses anteriores a construção não foi tão ruim, como agora", comentou. Ela atribuiu a queda de 3,3% no indicador dessazonalizado a problemas de estocagem de aços longos pelo setor. "Minha projeção de crescimento para a construção era de 4%, agora reduzi para 3%". A economista espera, porém, um reaquecimento do setor por conta do aumento do financiamento para o setor imobiliário. O recuo de julho sobre junho foi generalizado e 20, entre as 23 atividades pesquisadas pelo IBGE, recuaram no mês. Entre os setores, os que mais impactaram o resultado geral foi a produção de veículos automotores (com menos 4,6%) e material eletrônico e equipamentos de comunicação (menos 10,7%), sempre na comparação com junho e já descontados os efeitos sazonais. Com os resultados do mês de julho, a taxa acumulada em 12 meses recuou de 6,7% em junho para 5,8%.