Título: Dono de restaurante confirma pagamento de propina a Severino
Autor: Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 09/09/2005, Política, p. A6

O empresário Sebastião Buani confirmou ontem o pagamento de propina de R$ 40 mil ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, para renovar a concessão para o funcionamento do restaurante Fiorella no prédio da Câmara e mais R$ 10 mil mensais para manter a permissão. Detalhes da negociação sobre propina foram dados em entrevista que piorou ainda mais a situação do deputado. O impacto das revelações foi sentido no Palácio do Planalto, que tenta agora uma complicada operação: se afastar da imagem desgastada de Severino, mas manter com ele pontes o suficiente para evitar que o presidente da Câmara possa tentar negociar sua permanência com a oposição às custas de um fechamento de cerco ao presidente Lula. Durante entrevista na Associação Comercial de Brasília, sem provas mas com uma história bem circunstanciada, Buani confirmou que pagou propina de R$ 40 mil para Severino, o que garantiu a renovação do contrato do restaurante por três anos. O acordo foi feito quando Severino Cavalcanti era primeiro-secretário da Mesa. O empresário contou que foi procurado pelo aliado de Severino, Gonzaga Patriota (PSB-PE), oferecendo a renovação do contrato por cinco anos. Dias depois, conta Buani, foi levado ao gabinete do então primeiro-secretário para a negociação direta do contrato. Na conversa, foi apresentada a possibilidade de negociação até 2005. O primeiro-secretário teria pedido R$ 20 mil por cada ano de renovação, sob a alegação de que estava "precisando de recursos para um ano de eleição". Teria argumentado, ainda, que Buani poderia pagar o pedido porque lucrava muito no restaurante. Segundo o empresário, diante da proposta, ele teria negociado um valor menor. Ao final da conversa, Severino teria aceito o pagamento de R$ 40 mil por três anos. O dinheiro foi entregue em um envelope de papel pardo. Descontente com o valor, passou a exigir outros R$ 10 mil mensais. Sebastião Buani disse que poderá provar o pagamento após a abertura de seu sigilo bancário. Ao falar da filha, Gisele, encarregada de contar o dinheiro, o empresário chorou durante a entrevista. De acordo com Buani, em setembro de 2003, após ter uma conversa com a filha decidiu cancelar os pagamentos. "Decidi, a partir da conversa, nunca mais pagar o ? mensalinho ? ", afirmou. No Palácio do Planalto, o depoimento foi considerado mais um agravante e a senha para o processo definitivo de afastamento de Severino Cavalcanti. Ontem à noite, circulava entre interlocutores do presidente Lula a informação de que os próprios filhos de Severino já o aconselham a renunciar ao mandato antes da chegada do pedido de abertura de processo ao Conselho de Ética. Se for verdade, ajudaria os aliados do presidente da Câmara, que têm encontrado dificuldades para convencê-lo a renunciar ao mandato. Ministros mais próximos ao presidente avaliam que se o processo contra Severino entrar no mesmo ritmo que o enfrentado, por exemplo, por Roberto Jefferson - mais de quatro meses - o governo poderia ser levado novamente para o centro da crise com a paralisação total das votações. Em Nova York, ao tomar conhecimento das acusações de Buani, Severino afirmou mais uma vez que não iria responder: "Não tenho o que responder, só falo a partir de segunda-feira". Mas acabou dizendo que as acusações não passam de mentiras: "É mentira, mentira, mentira". (Com agências noticiosas)