Título: PT quer nome de consenso para a Câmara
Autor: Maria Lúcia Delgado e Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 09/09/2005, Política, p. A6

Os petistas têm dificuldades de encontrar um nome de consenso para suceder o deputado Severino Cavalcanti na presidência da Câmara. A substituição do deputado já é dada como praticamente certa após a entrevista concedida ontem pelo empresário Sérgio Buani, que confirmou o pagamento de propina a Severino. A bancada do PT reúne-se na próxima semana para discutir a situação do presidente da Câmara e analisar que posição tomar. Para não cometer os mesmos erros da eleição passada, o PT pretende contar com o tempo para trabalhar um nome consensual, que não seja rejeitado pela oposição e nem pela esquerda. A eventual substituição de Severino Cavalcanti pode se tornar um processo longo, caso o presidente da Câmara não renuncie e resolva lutar pelo cargo, conforme ameaça desde antes de viajar para Nova York, semana passada. Basta lembrar que o processo contra o deputado Roberto Jefferson consumiu os 90 dias previstos, no Conselho de Ética. Se houver uma representação contra o deputado diretamente no conselho, como os partidos prometem fazer, o processo será o 19º de uma fila a ser engrossa na terça-feira pelos 18 nomes cuja cassação foi pedida pelas CPIs dos Correios e do Mensalão. Numa visão otimista, o processo de cassação de Severino ocorreria depois de novembro, prolongando a crise que agora atinge em cheio a Câmara dos Deputados. De qualquer forma, o Palácio do Planalto abriu lançou pontes para a oposição. Teme que ela possa se aproveitar do afastamento de Severino, quando então assumiria a presidência da Câmara por meio do deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL), para tocar adiante eventual pedido de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com o afastamento de Severino, Nonô assumiria e ficaria no comando até a realização de nova eleição para a presidência. Regimentalmente, o cargo deveria ser ocupado por um deputado do PT, partido com a maior bancada. Por isso a sigla já começou a se movimentar. Apesar de nomes já circularem no PT, o que prevalece, até o momento, é muito mais um perfil ideal do que o de um candidato. Há pelo menos uma qualidade fundamental: ser um deputado cuja imagem está mais "colada" ao Parlamento que ao governo. Isso traz dificuldades para que uma eventual candidatura do líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), prospere, apesar de ser o nome preferido do Palácio do Planalto. Além disso, seria importante - conforme analisam os próprios deputados - considerar a experiência parlamentar. Marinheiros de primeira viagem perdem ai as chances, como é o caso de José Eduardo Cardozo (PT-SP), no primeiro mandato. O perfil precisa ser de estadista, um nome respeitado por toda a Casa, que preze a instituição. Se enquadrariam ai Sigmaringa Seixas (DF) e Paulo Delgado (MG). A imagem do Congresso está em franca decadência e, por isso, o nome escolhido precisa ter credibilidade e legitimidade. O problema é que nenhum dos dois une a bancada do PT, pelo menos por enquanto. Interfere ainda na discussão do fato de o partido estar em pleno processo de renovação de seus dirigentes, numa eleição de guerra aberta entre suas diversas tendências. Ontem, por exemplo, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) admitia publicamente a possibilidade de ter de mudar de partido, caso em Mato Grosso do Sul vença a corrente que defende uma aliança do PT com o PMDB nas eleições de 2006. "Aí não dá", dizia Delcídio, que é pré-candidato ao governo estadual nas próximas eleições. Não há dúvidas que o Palácio do Planalto interfere na sucessão do Legislativo, mas o momento exige cautela e o governo age nos bastidores, com muito cuidado. A avaliação entre os governistas é que qualquer nome vinculado ao governo morre no nascedouro. Se em fevereiro deste ano o desgaste do governo já foi fator decisivo para desarticular o PT e a base e favorecer a eleição de Severino Cavalcanti, a situação agora é infinitamente pior. Por essa razão nomes de ex-ministros como Aldo Rebelo (PC do B-SP) e Eduardo Campos (PSB-PE) também enfrentam reação. Está descartada a hipótese de o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) disputar novamente a presidência. Ele foi o candidato oficial do partido e enfrentou uma delicada disputa interna, concorrendo com Virgílio Guimarães (MG). Greenhalgh já disse a colegas de bancada que "jamais" aceitaria ser novamente candidato. Diz que seu orgulho o impede de se lançar mais uma vez. A um petista, o deputado confidenciou que não pode enfrentar a eleição porque recebeu "tantas facadas do PT pelas costas que as feridas ainda não estão cicatrizadas". Greenhalgh, no entanto, terá papel fundamental na sucessão de Severino. Ao disputar o segundo turno com o deputado pernambucano, Greenhalgh teve 195 votos. O presidente da Câmara chegou ao posto com o apoio de 300 deputados. "As mesmas pessoas que fizeram a traquinagem com o Parlamento em colocá-lo lá na presidência agora se arvoram em fuzilá-lo", analisou um petista, irritado com a falta de memória da oposição. O PT será cobrado a tomar uma posição na próxima semana. O partido vai insistir na necessidade de obediência ao princípio da proporcionalidade numa eventual sucessão de Severino Cavalcanti. Outros partidos de oposição e independentes - PSDB, PFL, PV, PDT, PPS e PSol - pretendem protocolar no Conselho de Ética o pedido de abertura de processo de cassação do presidente da Câmara. Partidos políticos têm essa prerrogativa sem que seja necessário o aval da Mesa Diretora da Câmara.