Título: CPI encontra ligação entre Banco Santos e Valério
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 09/09/2005, Política, p. A7
A CPI Mista dos Correios estabeleceu ontem o primeiro vínculo entre operações do Banco Santos, em processo de liquidação extrajudicial, e o esquema do mensalão montado pelo empresário Marcos Valério de Souza para convencer deputados a votar em favor do governo. O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) apresentou documentos que, segundo ele, provariam as ligações de ambos esquemas com empresas envolvidas em denúncias na CPI. Segundo o senador, documentos repassados pelo dono da corretora de valores PDR, Paulo Gustavo Arruda de Freitas, relacionam a Schahin Engenharia, a corretora Bônus Banval e a RS Administração e Construção como beneficiárias de recursos do Banco Santos. No total, R$ 260 milhões foram repassados. O senador Alvaro Dias afirma que a PDR, segundo disse Freitas, recebia recursos "frios" por meio da emissão de Cédulas de Produto Rural (CPRs) do Banco Santos e, em seguida, fazia transferências eletrônicas para pagar beneficiários indicados pelo Santos no Brasil. Os beneficiários, segundo Alvaro Dias, já teriam enviado recursos ao exterior para pagar essas dívidas em dólar com o Banco Santos e seu presidente, Edemar Cid Ferreira. "Não tem justificativa para essas transferências", diz o senador. "É lavagem de dinheiro, fraude mesmo", acusa. O senador pedirá à CPI dos Correios a convocação de Edemar Cid Ferreira. O Valor tentou contato com o Banco Santos, mas não obteve sucesso. O senador Alvaro Dias afirma que a Schahin recebeu R$ 10 milhões da corretora PDR. Além disso, segundo ele, teria recebido um cheque de R$ 300 mil da Guaranhuns, investigada pela CPI como repassadora dos recursos de Marcos Valério para políticos e partidos. Procurada, a assessoria de imprensa da Schahin informou não ter encontrado os diretores para comentar a acusação. A Bônus Banval, que teria recebido R$ 1 milhão da PDR, informou que pedirá a quebra de sigilo da PDR para esclarecer os fatos. "A corretora nunca recebeu recursos da PDR", afirmou o assessor de imprensa Cleinaldo Simões. Segundo ele, a Bônus recebeu depósitos da PDR em nome de um cliente, já falecido, cuja conta "está detalhada e à disposição da CPI". "O dinheiro veio para cobrir uma dívida desse cliente". Alvaro Dias afirma que, segundo Freitas, a PDR adquiria CPRs "frias" de cooperativas e e pagava 0,5% como "aluguel de CPR". Em seguida, a PDR endossava os papéis para o Santos, que depositava na conta da PDR. O resgate era feito para os beneficiários. A RS Administração e Construções não foi encontrada pelo Valor.