Título: Cristovam vai para o PDT de olho em 2006
Autor: Rosângela Bittar
Fonte: Valor Econômico, 09/09/2005, Política, p. A7

O senador Cristovam Buarque, ex-governador do Distrito Federal, ex-ministro da Educação do governo Lula, há 14 anos no PT, único partido ao qual se filiou, decidiu transferir-se para o PDT (Partido Democrata Trabalhista, criado por Leonel Brizola). Depois de comunicar à bancada petista do Senado que estava deixando o partido, Cristovam deu um tempo para analisar seu futuro político diante dos vários convites que lhe foram feitos. Pensou para valer em dois: o PDT, de Brizola, e o PPS, de Roberto Freire. Há uma semana, Cristovam prometia analisar seu novo rumo político sem desconhecer os projetos eleitorais. A opção pelo PDT indica que o partido pode abrigar, se for o caso e o seu interesse no ano que vem, uma candidatura à Presidência da República. A cruzada de Cristovam é a da Educação, e o PDT apresentava-se com um bom lastro neste campo, através das obras de Brizola e de Darcy Ribeiro. O anúncio de que o PT decidira passar por uma refundação não atraiu o senador. Ele acha que isto leva tempo demais e não é possível esperar. "Não dá para pedir ao povo que espere dez anos, até o PT se reencontrar e formular um projeto nacional. Nós temos que começar já", disse Cristovam ao Valor. Por que é tão demorado reconstruir o PT? Segundo o senador, a crise moral do partido sugere que há um grande desânimo, que leva a uma maior introspecção. "O partido deixa de olhar o Brasil e passa a olhar somente para si. Como o PT já tem uma tradição de olhar mais para si do que para o Brasil, vai demorar muito", avalia. Uma segundo razão é que "é preciso inventar o petismo". Cristovam Buarque explica que sempre houve o petista, combativo e honesto militante, mas não o petismo, um conjunto de idéias que possam formar um projeto nacional. Sendo um partido que "se orgulha de ser dividido", ou seja, não lamenta o fato e não pede desculpas por isto, inventar o petismo torna-se uma tarefa impossível. "Por que tudo isto aconteceu? Porque o PT não tinha um projeto de Nação para construir", afirma Cristovam. E, no caso do PT, segundo a análise do senador, não dá nem para recorrer à desgastada alegação de que os fins justificam os meios. "Não foi porque os meios foram maus; não havia os fins. Os meios justificaram os meios". A maior parte da militância, diz, vê o PT como um fim em si e não um meio para mudar o Brasil. O senador conta que, às vezes, militantes o provocam perguntando por que está abandonando o barco. "Como? Vou embora do PT, não vou embora do Brasil. Para os militantes, o PT é finalidade, não vêem o partido como um exército político de transformação". Todas as disputas internas do PT se dão em torno de nomes, não de conceitos ou ideologias. "Industrializar ou educar? O Brasil não entrou neste debate", afirma. Outros partidos não sofrem, segundo Cristovam, desta falta de compromisso com projeto, e estão mais abertos a mudar. "Um projeto que coloque a educação no centro é muito mais fácil existir em partidos como o PDT, o PPS". Cristovam está com 61 anos, e acredita que pode ter mais uns 10 anos de vida pública, com mandato. "Posso ajudar a reaglutinar os que sonham com o Brasil diferente e que nós nos acostumamos a chamar de as esquerdas brasileiras". Fazer isto por dentro do PT seria impossível, acredita. Até porque ficaria dominado pela luta interna, para a qual, além de não ter vocação e competência, não seria aceito. "A esquerda do partido não me aceita porque defendo a política econômica; o campo majoritário, muito autoritário, não me aceita pela centralidade no social e independência. A esquerda até que não é autoritária, mas põe a taxa de juros na frente da taxa de alfabetização".