Título: Lula fica no PT e define reeleição até dezembro
Autor: Cristiano Romero e Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 09/09/2005, Política, p. A8

Crise Governo teme desgaste com o desfecho do caso envolvendo o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu a si mesmo o prazo, até o fim do ano, para decidir se será candidato ou não à reeleição em 2006. Seu plano, revelado a assessores e interlocutores na última semana, é esperar pelos desdobramentos da crise política e do PT, para tomar uma decisão. No auge da crise que atinge seu governo e, principalmente, seu partido, Lula pensou em se candidatar, a qualquer preço, para "salvar" a legenda que ajudou a fundar há 25 anos. Agora, quer avaliar o cenário antes de partir para a disputa. O presidente disse a interlocutores que só disputará a reeleição se tiver a certeza de que poderá fazer, num segundo mandato, um governo melhor que o primeiro. Apesar das sucessivas crises que vem enfrentando, Lula julga que fez, até agora, uma boa gestão na Presidência da República. Trata-se de uma avaliação controversa, que não é compartilhada nem mesmo por todos os seus ministros. O presidente está animado, especialmente, com os resultados que vem obtendo no front econômico. Ele comemora os dados sobre geração de emprego formal (média mensal de 104,9 mil vagas) e a produção recorde da indústria. Se nenhuma surpresa acontecer, a economia brasileira, que expandiu 4,9% em 2004, deverá crescer 4% este ano e mais do que isso em 2006, um ritmo aquém da média dos países emergentes nos últimos anos, mas, ainda assim, um desempenho invejável, se comparado à média dos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso - 2,5% ao ano. Lula aposta que a economia ajudará a recuperar sua popularidade, em queda desde o início dos escândalos de corrupção. A oposição - PSDB e PFL -, no entanto, hoje afirmam que "a variável" da economia não será tão importante eleitoralmente, diante da extensão do problema político e porque mesmo um crescimento em torno dos 5% não mudará substancialmente a vida das pessoas. A avaliação é que em dois extremos a economia efetivamente produz efeitos eleitorais: crescendo muito ou em processo de recessão. Antes de tomar uma decisão sobre a reeleição, Lula avaliará as chances de, num segundo mandato, deter maioria no Congresso para governar. A crise política, que já dura quatro meses, enfraqueceu seu partido e esfacelou a base de apoio ao governo no Legislativo. Com o PT fraco, o presidente terá que negociar alianças mais sólidas. O presidente e seus assessores mais próximos acreditam que a situação está mudando para melhor. Na crise, o pior momento, avaliam seus assessores, foi o depoimento de Duda Mendonça à CPI dos Correios. O melhor foi a entrevista concedida pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, no último dia 21. Por mais que o agravamento da crise no Congresso tenha desviado momentaneamente a atenção sobre o Palácio do Planalto, o governo teme os efeitos do desgaste do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Até o início da semana o Planalto pensava em ajudar Severino a se manter na cadeira. Agora, torce por uma solução rápida. A oposição e até partidos da base do governo ameaçam não votar mais nada até que Severino se afaste do cargo. Isso, num momento em que o governo havia conseguido retomar algumas votações de seu interesse, na tentativa de restabelecer um mínimo de normalidade. Havia a expectativa, por exemplo, de ser concluída a votação da MP do Bem já nesta semana. Lula se deu um prazo para decidir se é ou não candidato à reeleição em 2006, mas já tomou outra decisão, definitiva: não pretende sair do PT, como chegou a ser especulado. O presidente está preocupado com o futuro do partido, irremediavelmente fragmentado, mas ainda tem esperanças - e o governo trabalha para isso - de que as correntes em disputa façam uma trégua para que o PT se apresente com alguma unidade na eventual eleição a ser realizada para eleger o sucessor de Severino Cavalcanti, caso ele de fato renuncie à presidência da Câmara ou venha a ser cassado. Lula lamenta o fato de ter deixado o Partido dos Trabalhadores solto na disputa de fevereiro, quando Severino foi eleito depois de derrotar dois candidatos petistas. Um dos erros que ele admite ter cometido no governo.