Título: Apesar do sol, paulistano espera a eleição para viajar
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2004, Política, p. A-7

A coligação entre sol e feriado prolongado não teve impacto significativo no resultado das eleições municipais de São Paulo. Muitos dos que foram às praias do Guarujá votaram antes de descer a serra ou fizeram cálculos de votos entre familiares e chegaram à conclusão de que no final haveria "empate". A abstenção em relação ao primeiro turno só aumentou em 2,5 pontos e ficou em 17% do eleitorado. "Estávamos divididos. Minha mulher votaria na Marta e eu no Serra. Como o placar ia ficar 0x0, elegemos nosso filho, Ilan, de 1 ano e decidimos passar um fim de semana em família", justifica o comerciante Alexandre Prado, mesmo assim temeroso pelos danos do "efeito feriado". Foi esse receio que levou outro casal, Alexandre Neufeld, administrador de empresas, e Patrícia Zaborowsky, psicóloga, a levantar cedo ontem, votar em Serra e pegar a estrada para aproveitar a praia com a sensação de "dever cumprido". "Sou um eleitor do PSDB e não quis arriscar. Mas antes da Marta ganhar fôlego, consideramos a hipótese de viajar no sábado", afirma Neufeld. No sistema Anchieta/Imigrantes, principal via de acesso ao litoral, o movimento de carros em direção às praias se intensificou no domingo. O horário de pico ocorreu ontem entre às 10 e às 11 horas, quando passaram 9.500 carros pelo pedágio. Segundo a Ecovias, concessionária que administra o sistema, 191 mil veículos haviam descido ao litoral até as 17 horas de ontem. Desses, 57 mil na sexta, 73 mil no sábado e 61 mil ontem (até às 17 horas). O número total de veículos que deixarão a cidade nesse feriado deve ficar abaixo dos 374 mil carros registrados no feriado de 12 de outubro. Na manhã de ontem, o trajeto de uma hora entre a capital e o Guarujá, teve seu tempo triplicado. Entre pegar trânsito e ver seu candidato não ser eleito, o advogado Márcio Betti Mascaro, que votou em José Serra no primeiro turno, não teve dúvidas de que viajar seria a melhor opção e desceu no sábado. Ajudou na escolha a companhia de duas advogadas, Paula Bonanno e Carolina Saad Corrêa, ambas favoráveis a Marta Suplicy. "O meu não-voto deixou minha família irritada", diz Carolina. "Minha mãe queria de qualquer maneira que eu voltasse para São Paulo para votar. Mas a minha resposta foi que a Marta já havia perdido as eleições." O tom da campanha pesou na opção de Paula: "A baixaria do final da campanha me incomodou um pouco e ajudou na decisão pelas areias do Guarujá." O médico João Egídio tomou a decisão de viajar sem se preocupar com os efeitos colaterais de sua ausência. "Minha candidata era a Erundina. Como ela não foi para o segundo turno, optei por não votar. Não vejo diferenças marcantes entre Serra e Marta", diz Egídio. Mas nem todos os eleitores estavam com a consciência tranqüila. O publicitário Roberto Cicarelli viajou para o Guarujá no sábado e, às 7h do domingo, estava na estrada para votar no Jockey Clube de São Paulo. Às 8h30 já estava descendo para aproveitar o sol. "Acho que temos obrigação de votar, embora aqui esteja muito bom", afirma Cicarelli, que preferiu não declarar seu candidato.