Título: Vitória inédita dá a Serra 55% dos votos
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2004, Política, p. A-7

José Serra foi eleito prefeito de São Paulo na primeira vitória do PSDB na capital paulistana. Nesta terceira tentativa, Serra conquistou a prefeitura do maior colégio eleitoral do país, dando ao PSDB sua vitória mais representativa. No resultado final da apuração, o tucano ficou com 3.330.179 votos, correspondentes a 54,86% dos votos válidos. A atual prefeita, Marta Suplicy (PT), marcou 2.740.152 votos, ou 45,14% dos válidos. Votos brancos somaram 1,50% e os nulos, 3,76% do total. A abstenção em São Paulo chegou a 17,55% dos eleitores. No segundo turno, Serra conseguiu agregar mais votos do que Marta Suplicy, apesar do apoio dado à prefeita pelo terceiro colocado Paulo Maluf (PP). Às 10 da noite, falou como prefeito eleito. Agradeceu os apoios do seu partido, dos aliados, dos eleitores e de sua equipe de campanha. Prometeu um governo de união com " a população e com o governo do Estado " , mas não citou união ou parceria com o governo federal. E fez questão de " prestar uma homenagem " e agradecer ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que, em viagem aos Estados Unidos, não voltou ao país para votar neste segundo turno. O prefeito eleito também fez referências indiretas ao preconceito do qual reclamou a candidata petista. " Vamos somar, exercendo um governo para todas e para todos. E quero sublinhar o todas porque as mulheres são a alma desta cidade " , afirmou. Depois, dedicou a vitória à mãe, dona Serafina, de 88 anos. Durante o discurso o prefeito eleito chorou várias vezes. Depois, prometeu prioridades, como a área da saúde, e austeridade. Capitalizando a derrota do PT, os tucanos avaliaram que o resultado mostrava a federalização da campanha. " A eleição paulistana ganhou contorno nacional. O eleitorado pôde avaliar dois partidos que estiveram no governo e souberam diferenciar " , disse o presidente municipal do PSDB, Edson Aparecido. O PT, porém, nunca governou o Estado e o PSDB nunca chegou ao poder na capital. Durante a campanha, Serra prometeu ficar os quatro anos do mandato diante das especulações de que seria candidato ao governo do Estado ou mesmo à Presidência em 2006. Assim, deixa uma incógnita para o PSDB na sucessão do governador Geraldo Alckmin. Alckmin sai como o grande cabo eleitoral de Serra nesta eleição e com as vitórias que obteve no interior do Estado se cacifa entre os tucanos como um provável candidato à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. " Foi uma disputa difícil. O resultado em São Paulo traz Alckmin como grande vitorioso " , afirmou Aparecido. Um dos coordenadores da campanha, o deputado Walter Feldman (SP), corrobora: " O PSDB sai muito forte. Alckmin é um ótimo nome " . A formação do secretariado era tratada com reservas pelos tucanos ontem. Suas lideranças, no entanto, cogitavam nomes com o do deputado José Aristodemo Pinotti, pré-candidato do PFL, preterido por seu partido em favor da aliança com Serra desde o primeiro turno. Outros nomes ventilados são os dos ex-ministros Clóvis Carvalho, Aloysio Nunes Ferreira e do deputado Walter Feldman. O PSDB, sem maioria na Câmara de Vereadores, terá que negociar com uma base de centro ainda sem dono e que pode ganhar secretarias em troca de apoio no Legislativo. Embora o PSB não tenha dado apoio explícito ao PSDB no segundo turno, a candidata derrotada Luiza Erundina (PSB) manteve seu voto secreto e disse que não se frustraria com o resultado da eleição e do futuro governo porque não tinha expectativa com nenhum dos dois candidatos. Sobre seu futuro político, disse que se manterá na vida pública e será candidata se o partido assim o desejar. Afirmou, no entanto, que está disposta a colaborar com a futura administração.