Título: Campanhas desmotivadas temem abuso do poder econômico
Autor: César Felício, Caio Junqueira, Sérgio Bueno, Janai
Fonte: Valor Econômico, 09/09/2005, Especial, p. A12

Com um rombo no caixa do partido superior a R$ 20 milhões, os concorrentes da eleição interna do PT têm que bancar suas próprias campanhas. Há uma promessa, vaga, de ressarcimento futuro pela direção nacional. Candidatos aos diretórios regionais nos Estados maiores estão gastando em torno de R$ 50 mil. As campanhas nacionais podem chegar a R$ 200 mil. O temor do abuso do poder econômico, em um quadro com a militância desmotivada pelos escândalos que sacodem a sigla, é geral. Os precedentes não são animadores. Teme-se o oferecimento de transporte para os candidatos e a quitação da dívida para tornar o filiado apto a votar. No passado, instrumentos como estes foram usados tanto pelo atual comando quanto pelas correntes de esquerda da sigla, conforme confidenciam integrantes das tendências Campo Majoritário, Democracia Socialista, Articulação de Esquerda e Movimento PT. "A corrupção acontece em todas as eleições do PT", aponta Chico Vigilante, candidato do Campo Majoritário ao diretório do PT no Distrito Federal. Candidato pela Articulação de Esquerda e com costuras políticas em 14 estados, Valter Pomar estima que gastará R$ 80 mil, pouco mais da metade do Orçamento original de R$ 170 mil. A maior parte dos gastos fica com o transporte, estimado em R$ 45 mil. A campanha de Raul Pont, pela Democracia Socialista, deve ter custo semelhante, segundo o secretário de formação política do partido, Joaquim Soriano, um dos principais articuladores de Pont em São Paulo, estimou o gasto na faixa de R$ 150 mil. Candidato há apenas uma semana, Ricardo Berzoini não soube estimar qual será o dispêndio do Campo Majoritário, que trocou três vezes de candidato durante o processo eleitoral. Proporcionalmente, o custo sobe nas disputas regionais. Apenas no Mato Grosso do Sul, para poder distribuir adesivos, camisetas e panfletos com seu nome, o candidato do Campo Majoritário, Mariano Cabreira, estima gastos entre R$ 50 e R$ 70 mil. Vale organizar feijoadas e galinhadas para arrecadar recursos. Parte dos R$ 50 mil previstos por Chico Vigilante, serão arrecadados em um jantar preparado por sua chapa, com a venda de 300 convites a R$ 50 cada um. A expectativa de baixo quórum em alguns Estados pode dar margem ao abuso econômico. No Paraná, Florisvaldo Fier, o Dr. Rosinha, da Democracia Socialista, diz que o risco é concreto. "Ou as pessoas já se decidiram ou se desencantaram de vez. Se der quórum, haverá segundo turno, isso se o Campo Majoritário não arrastar militantes para votar e pagar suas anuidades", diz ele. No Paraná há cerca de 50 mil pessoas aptas a votar, mas não são esperadas mais que 20 mil e já foi colocada em dúvida até o comparecimento mínimo de 15% para validar o processo de escolha. O inchaço que o partido tende a ser decisivo. Estruturado nos últimos cinco anos, Tocantins pode garantir um quórum alto no dia da votação, talvez 30%, o dobro do índice mínimo. O partido tinha apenas 1,6 mil filiados em 1999 e hoje está com 6,8 mil aptos ao voto. No Distrito Federal, filiações em massa não são novidade. O total de filiados chegou a 18 mil quando o PT foi governo no Distrito Federal, entre 1995 e 1998. Com o recadastramento, esse número diminuiu para 11,7 mil filiados em 2003. Hoje, são 14 mil, mas apenas 10% estão em dia, segundo avaliação do dirigente Antonio Carlos de Andrade, da APS. Como em eleições anteriores, boa parte deverá quitar seus débitos no dia da eleição. "Infelizmente é uma realidade no partido. Inclusive vamos pedir para que esta seja a última eleição direta. É um tráfico de dinheiro, uma vergonha", ataca Andrade. Em Pernambuco, partido possui cerca de 32 mil filiados em todo o Estado, mas e 70% não deverão participar das votações. Na Paraíba, dos 22,1 mil filiados, a expectativa é que apenas 13 mil militantes confirmem seus votos nas eleições internas. No Rio Grande do Sul, dos 77,8 mil filiados, o comparecimento máximo esperado é de 20 mil.